sábado, 5 de dezembro de 2009

Beijo polêmico, mas cidadão

O Jornal da Band, da paulista TV Bandeirantes questionou na quinta-feira (03) o filme publicitário da campanha que o Ministério da Saúde produziu para o Dia Mundial de luta contra a AIDS, lançada em 1º de dezembro. O beijo entre um casal heterossexual (um homem e uma mulher) sorodiscordante (ele tem HIV e ela não), repercurtiu mal no Morumbi, bairro da classe média alta paulistana onde a emissora está localizada.

A possibilidade de transmissão do HIV pelo beijo é mínima. Pode ocorrer apenas se as duas pessoas estiverem sangrando (será que alguém cogitaria beijar outra pessoa com sangramento? Será que é grande a probabilidade de duas duas pessoas com sangramento beijar-se?).

No vídeo abaixo, a reportagem do Jornal da Band.


A campanha
O beijo está inserido em uma das mais sensíveis e corretas das campanhas do Ministério da Saúde sobre HIV. Pelo menos na minha opinião, que defendo, como as professoras Inesita Araújo e Janine Cardoso, ambas do ICICT/Fiocruz, que saúde não deve ser "vendida" como uma nova marca de tênis, de automóvel ou o lançamento de um apartamento. Saúde não é comércio, é um direito humano fundamental.

As pessoas que vivem com HIV/AIDS (PVHA) têm o direito de não sofrer preconceito ou discriminadas na rua, como aconteceu com o ator Cazu Barroz nesta semana num ônibus em Copacabana, no Rio. Cazu foi um dos protagonistas do filme de campanha similiar, produzida em 2006, e é um dos três brasileiros em recente campanha que o UNAIDS lançou em toda a América Latina.



Da mesma forma, a população têm o direito fundamental a informações corretas sobre saúde (beijo, abraço, convívio social e afetivo não transmitem o HIV). É obrigação constitucional do Ministério da Saúde comunicar à população as informações científicas de forma clara e compreensível para o maior número possível de pessoas. Isso também é cidadania.

Ah, os outros filmes que gostei foram os produzidos para a campanha do Dia Mundial de luta contra a AIDS de 2006, com os também PVHA Beatriz Pacheco e Cazu Barroz, os quais tive a honra de colaborar, enquanto estive no Grupo de Trabalho de Comunicação do Departamento de DST/AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A frase

Viver com Aids é possível. Com o preconceito, não.


Slogan 2009 para a campanha que o governo federal lança nesta semana em alusão ao Dia Mundial de Luta contra a AIDS, comemorado desde 1988 no dia 1º de Dezembro.


Veja também: Frases sobre AIDS e Apenas uma frase

sábado, 21 de novembro de 2009

Populações discriminadas pedem respeito em campanha da ONU

Na última segunda-feira (16), estive no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro, para o lançamento da campanha Igual a Você, assinada por agências da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil e por segmentos da sociedade civil brasileira (veja abaixo). A realidade de estudantes, gays, lésbicas, pessoas vivendo com HIV, população negra, profissionais do sexo, refugiados, transexuais e travestis, e usuários de drogas é de enfrentamento do preconceito. Integram a campanha Igual a Você dez filmes de 30 segundos, que tem por objetivos promover a igualdade de direitos de homens, mulheres e crianças que são diariamente discriminadas no Brasil.



Durante a cerimônia de lançamento, agências da ONU que assinam a campanha deram um panorama da realidade de cada população – estudantes, gays, lésbicas, pessoas vivendo com HIV, população negra, profissionais do sexo, refugiados, transexuais e travestis e usuários de drogas –, e apresentaram os dez filmes de 30 segundos que integram a campanha. Os filmes estão disponíveis para veiculação em emissoras de televisão de todo o país, e também na página do UNAIDS Brasil no YouTube.



Igual a Você é uma série de filmetes de 30 segundos contra o estigma e o preconceito, dá voz e visibilidade aos direitos humanos das populações-alvo da campanha. Os filmes, produzidos pela agência [X]Brasil – Comunicação em Causas Públicas e gravados em estúdio com trilha sonora original de Felipe Radicetti, apresentam mensagens de lideranças de cada um dos grupos discriminados, levando em consideração diversidades de idade, raça, cor e etnia.

Sensível, Igual a Você tem um texto base para todas as populações retratadas na campanha. Alguns filmes, como o de crianças nas escolas, o de crianças vivendo com HIV/AIDS, o da população negra, o de usuários de drogas e o de refugiados têm textos diferentes, mas tão sensível quanto os outros. Apesar dessa linearidade, na qual os filmes ficaram bastante parecidos, gosto muito do filme de pessoas vivendo com HIV/AIDS (não pelo fato de eu estar nele), o de crianças vivendo com HIV/AIDS e o de prostitutas. É que o tom das falas faz toda a diferença.

Enfim, Igual a Você é uma campanha contra o estigma, o preconceito e a discriminação na qual as populações discriminadas mostram seus rostos e pedem o respeito que merecem da sociedade brasileira.

Assinatura da campanha Igual a Você:
Nações Unidas - UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids), ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), UNIFEM Brasil e Cone Sul (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher), UNESCO no Brasil (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime), com apoio do UNIC Rio (Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil)

Sociedade Civil: ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais), AMNB (Associação Brasileira de Mulheres Negras Brasileiras), ANTRA (Articulação Nacional de Travestis, Transexuais e Transgêneros), Movimento Brasileiro de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+ / MNCP / RNAJVHA) e Rede Brasileira de Prostitutas.

sábado, 24 de outubro de 2009

Um beijo contra o preconceito

O Ministério da Saúde começou a escolher, nesta semana, dois casais sorodiscordantes para protagonizarem a campanha “Viver com AIDS é possível. Com o preconceito não.” As frases-slogan vão apresentar as peças publicitárias que serão produzidas em alusão ao Dia Mundial de Luta contra a AIDS, no próximo dia 1º de dezembro de 2009.

A campanha vai abordar o preconceito que grande parte da sociedade brasileira ainda nutre pelas pessoas soropositivas para o HIV. O que parece contradição diante dos resultados de pesquisas que mostram que a maioria das pessoas sabem como se pega e como não se pega AIDS e que o uso de preservativo é ainda o único método seguro para se ter uma vida sexual ativa sem enfrentar o risco de se infectar com o vírus.



Para combater o preconceito, as peças da campanha usarão imagens de beijos, símbolo de amor e amizade, que no campo da Aids assume outras conotações. Segundo explicação no texto divulgado nesta semana pela Unidade de Articulação com a Sociedade Civil e Direitos Humanos (SCDH) do Departamento de DST/AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, “o beijo mostra que não se transmite o HIV dessa forma, que pessoas que vivem com HIV/aids podem e devem se relacionar, que a solidariedade precisa ser praticada”.

Preconceito é uma ideia, sentimento ou opinião, favorável ou desfavorável, (pré)concebido sem exame crítico. A discriminação decorrente do preconceito é todo ato de exclusão, de situar alguém ou alguma coisa à margem. Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é “tratar mal ou de modo injusto, desigual, um indivíduo ou grupo de indivíduos, em razão de alguma característica pessoal, raça, etnia, classe social, convicções etc.”.

Segundo a SCDH, o slogan da campanha “exige que a criação dos materiais conte com personagens da vida real”. Por isso a seleção dos casais sorodiscordantes, aqueles nos quais um dos parceiros (as) sexuais é soropositivo (a) para o HIV. Eu mesmo ajudei a divulgar o recrutamento nas listas que participo porque acredito que a participação e o protagonismo das pessoas que vivem com HIV transmite credibilidade para mostrar que essa realidade é possível.

Para os fôlderes e cartazes que serão veiculados em trens e estações urbanos e de metrô em âmbito todo o Brasil, inclusive com vídeo produzido para exibição nos cinemas e na TV, serão selecionados três casais heterossexuais e para a gravação do vídeo e servirem de modelos nos outros materiais. Também serão selecionados dois casais homossexuais para a produção de outro material gráfico, dirigidos especificamente para homossexuais masculinos, com veiculação restrita. Entre as opções de casais, apenas um casal heterossexual será escolhido para protagonizar a campanha e outro homossexual para protagonizar as campanhas gráficas dirigidas.



A campanha tem forte inspiração no trabalho desenvolvido pelo artista plástico brasileiro Vik Muniz, radicado em Nova York, que no último dia 20 de setembro reuniu cerca de mil pessoas vivendo e convivendo com HIV e AIDS em um ginásio de esportes de Guarulhos, cidade da região metropolitana de São Paulo, fotografadas com grandes cartões fotográficos formando enormes painéis que retratavam beijos entre pessoas sorodiscordantes (nas fotos desta postagem, de Magda Fernanda/ASCOM). Ainda que o trabalho tivesse por objetivo produzir uma obra para doação a um museu de arte brasileiro, ele também deve compor a campanha.

Até quinta-feira (22/10) os casais sorodiscordantes interessados que tivessem entre 27 e 45 anos e um tipo físico tipicamente brasileiro (mais para o moreno que para o loiro, branco e com olhos azuis) puderam enviar fotos para a Assessoria de Comunicação (ASCOM) do Departamento de DST/AIDS e Hepatites Virais. Seria bem interessante que os casais escolhidos pudessem representar toda a faixa etária delimitada, principalmente a que está em torno dos 40 anos, não contemplada na campanha do “Clube dos Enta”, no ano passado.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

PVHA participam de campanha latino-americana sobre AIDS

A América Latina é o terceiro continente com as maiores incidência e prevalência de AIDS no planeta, só perdendo para África e Ásia, respectivamente. Por isso, uma parceria entre 13 emissoras de televisão de 13 países latino-americanos lançou nesta quarta-feira, 13 histórias de pessoas que vivem com HIV e AIDS (PVHA) no continente, com a campanha “Paixão pela Vida”.

Das 13 histórias contadas, três são de brasileiros: o ator Cazu Barroz, que vive com HIV há 20 anos e foi protagonista da Campanha do Dia Mundial de Luta contra a AIDS do Ministério da Saúde em 2007, a dona de casa Jucimara Moreira e a educadora e atriz Cilene Sá. Todas as histórias têm o mesmo formato: vídeos de 30 segundos e de um minuto, além de spots para rádio.

No Brasil, “Paixão pela Vida” tem o apoio da Rede Globo de Televisão, uma das fundadoras da Iniciativa de Mídia Latino-Americana sobre AIDS (IMLAS, na sigla em espanhol). A iniciativa, criada em janeiro deste ano por uma coalizão das 13 maiores emissoras de radiodifusão na América Latina, tem apoio do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Fundação Huésped, The Kaiser Family Foundation. Lançada fevereiro, a IMLAS tem por objetivos fortalecer e aumentar a efetividade da contribuição dos meios de comunicação, em resposta à AIDS, além de desenvolver uma resposta coordenada da mídia.

A campanha, que pretende fazer parte de uma resposta da América Latina ao HIV pode ser vista no site Paixão pela Vida, onde podem ser assistidos aos vídeos, acessadas as histórias pessoais, baixar wallpapers, jogar games online, buscar informações sobre o HIV e a AIDS e os locais para fazer o teste que detecta anticorpos para o HIV no sangue.

Assim como as emissoras de radiodifusão e os demais parceiros, esperamos que essa resposta latino-americana possa contribuir para diminuir a incidência de HIV na região.

domingo, 13 de setembro de 2009

Top 2 Saúde Pessoal: uma dedicatória

Talvez tenha sido relativamente fácil figurar entre os TOP 100 da categoria Saúde no Prêmio TOP BLOG. Afinal, apenas 332 blogs inscritos na categoria disputavam três subcategorias (pessoal, profissional, corporativo) com dois votos cada, o voto popular e do júri acadêmico. Mais que mero reconhecimento, foi um grande e valoroso incentivo.


Mas ter recebido o TOP 2 foi uma honra unida a uma enorme responsabilidade. Não apenas a devida ao corpo de jurados, mas aos amigos e amigas que incentivaram e continuam a incentivar. Por isso, quero agradecer, mais uma vez, e agora nominalmente àqueles e àquelas a quem devo esta credibilidade.

Primeiramente, à grande amiga de todas as horas, a jornalista Cristiana Couto. Especializada em gastronomia, iniciamos e terminamos juntos a graduação em jornalismo. Ela é autora do Seja bem vinho e, indiretamente, foi dela a “inspiração” que motivou a criação deste blog.

Também, à incentivadora acadêmica Cristina Câmara. Doutora em antropologia e mestre em sociologia, é autora do Cultura, Política e Gestão. Foi dela, por exemplo, o incentivo para escrever o trabalho “Blogosfera PositHIVa, uma experiência em rede”, apresentado na modalidade de multimídia no VII Congresso Brasileiro de Prevenção das DST e AIDS, entre tantos outros empurrões.

Também quero nomear o Henrique Quintana, cujo heterônimo é autor do Blog do Tiago+, que com mais de 60 mil visitas e uma regularidade surpreendente fala de soropositividade, espiritualidade e comportamento. Não dá pra esquecer – jamais – de outra guerreira, a trans-oceânica, Maria Vital, autora do sensível, inteligente e ativista Tempo de Janela. Tiago e Mié são dois queridos. Volta e meia passam por aqui e deixam um comentário carinhoso.

Agradeço à Andrea Domanico, atualmente em temporada norte-americana na Universidade Johns Hopkins, mas nem por isso menos presente.

Ainda, à minha querida Naíme Silva, psicóloga, educadora e bruxa, autora do Nova Terra.

Ao casal Flavio Lenz e Gabriela Leite, agradeço imensa e profundamente pelo carinho, acolhida e generosidade. Ele, jornalista, autor e editor do jornal Beijo da Rua. Ela, fundadora da ONG Davida e criadora da grife Daspu.

Ainda, ao dr. Pedro Chequer, coordenador do escritório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e AIDS (UNAIDS) no Brasil, pelo apoio e reconhecimento.

E finalmente, agradeço a você que acompanha esta minha jornada já não tão solitária. A vocês todos aqui elencados, dedico este prêmio. Obrigado.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Top 3, Brasil!

Se eu contasse, você não iria acreditar. Se você me contasse, EU não iria acreditar. Eis que recebo um e-mail do Top Blog, dizendo que estas SaudAids está entre os cem blogs - o Top 100 - inscritos na categoria Saúde / Pessoal. E mais, é um dos três escolhidos pelo júri acadêmico para o Top 3!!! É muita felicidade!!!

E um grande incentivo. É a prova que, mesmo rastejando -algumas vezes-, o blog consegue atingir o objetivo para o qual ele foi se moldando. É verdade. Construí este blog porque achei legal o blog de uma grande amiga. No começo, tinha um fundo preto e um amigo disse que dificultava a leitura, que fugia do padrão. Pestanejei, mas mudei. Ao longo do tempo - e do conteúdo nele inserido - o blog foi adquirindo personalidade própria. E é o que você lê.

Sei que não tenho dado a atenção que o blog merece (e a partir de agora, com o mestrado, talvez receba menos atenção ainda), mas é o que tenho conseguido postar. Aliás, prometo escrever neste feriado um post bem bacana, sobre uma campanha que usa uma determinada figura histórica para fazer prevenção à AIDS.

Tenha certeza que fico muito feliz quando tenho de responder a um comentário. Seja ele positivo ou negativo. A crítica é como um esmeril. Antecipadamente, quero agradecer às pessoas que votaram no blog. E no júri que o escolheu como um dos três melhores. O incentivo é maravilhoso! Mas, agradeço, principalmente, àquel@s leitor@s fiéis, que passam aqui apenas pra ler minha nova sandice. Obrigado!

domingo, 30 de agosto de 2009

Um prêmio cheio de carinho e afeto

Acordo, ligo o computador e faço meu café. Bebo o líquido negro e despertador lendo o comentário que Maria Vital, do blogue Tempo de Janela deixou no post anterior. Com o comentário, fico sabendo que ela me concedeu o prêmio "Comprometidos y Más 2009" (comprometidos e mais).

Este prêmio foi concebido para assinalar blogues comprometidos culturalmente, politicamente, socialmente..., por isso devo nomear cinco blogues que na minha perspectiva reúnam os requisitos nele assinalados.


Sendo assim nomeio os seguintes blogues:

Blog do Tiago+
Com camisinha
Diário HIV Vida
Sieropositiva
Cultura, Política e Gestão.

sábado, 29 de agosto de 2009

RNP+ Brasil reinventa ativismo na Paraíba

Simoni e Elifrank são soropositivos para o HIV. Ela do centro-oeste e ele do nordeste do país, eles se conheceram durante o II Encontro da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP+ Brasil), realizado em agosto de 2007 na cidade de Manaus. Alguns meses depois ele deixou a capital amazonense Manaus rumo a Cuiabá, onde ela vivia e estão juntos desde então.

Elifrank e Simoni decidiram celebrar esta união durante o III Encontro da RNP+ Brasil, realizado de 18 a 21 de agosto de 2009 em Campina Grande, na Paraíba, ao lado de seus pares – no caso, outras 250 pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA). Na cerimônia simbólica, o secretário nacional da rede “abençoou” o casal. E um integrante do Distrito Federal leu algumas passagens bíblicas. Teve beijo e bolo de verdade e bênção de mentirinha. Os noivos tiveram padrinhos e madrinhas de todas as regiões do Brasil.

Apesar do incômodo, percebi a ação afirmativa no ato cerimonial. Um homem e uma mulher soropositivos que se entregam novamente ao impulso, ao desejo, à paixão e ao amor; juntam seus caminhos e seguem unidos pela vida, porque acreditam nela. É verdade que aumentou a expectativa de vida depois de mais de 25 anos, beirando a terceira década da epidemia de AIDS no mundo e por isso fazemos planos para o futuro.

Eu mesmo, 21 anos depois de diagnosticado positivo para o HIV, e há 17 anos fazendo uso de medicamentos antirretrovirais, passei em terceiro lugar num mestrado e estou mudando de cidade para fazer o curso. Aumentou a expectativa de vida porque aumentou nossa qualidade de vida. Simoni e Elifrank celebraram a vida.

Embora a cerimônia do casal tenha sido a primeira notícia recente, um dia antes do início do evento, o III Encontro Nacional da RNP+ Brasil, que teve por tema a frase “Celebrando a Rede, Revendo as Conquistas e Reinventando o Ativismo”, foi melhor que o segundo e que o primeiro encontro juntos em qualidade de discussões, debates, proposições, capacitação e resolução. A principal delas foi a mudança de metodologia. Ao invés de centenas de propostas para o legislativo, executivo e judiciário, apenas um documento político, intitulado Carta de Campina Grande, com reflexões voltadas mais para o processo interno da RNP+ Brasil do que para os contextos e as conjunturas externas, ainda que também as contenha.

Aprovada no mérito, a Carta de Campina Grande será construída a partir das relatorias e dos vídeos gravados dos quatro (“rumos”, “seguridade social, políticas públicas e controle social”, “direitos humanos” e “relações e políticas internacionais”) eixos (mesas expositivas seguidas de debate e grupos de discussão e trabalho), e das oficinas (“vacinas anti-HIV”, “casas de apoio” e “co-infecção tuberculose + HIV”) capacitadoras. O documento trará uma firme oposição da RNP+ Brasil à criminalização pela transmissão do HIV, a necessidade de revisão da legislação que regulamenta as casas de apoio às pessoas doentes de AIDS e a dificuldade de acesso à elaboração, implementação e fiscalização das metas e dos recursos financeiros dos Planos de Ações e Metas (PAM) de alguns estados e municípios diametralmente oposta à credibilidade que a RNP+ Brasil tem em outros estados, municípios e no âmbito federal.

Internamente, a carta apontará a dificuldade de comunicação interna e vai levantar a necessidade de capacitações à distância e por meio dos grupos de trabalho (GT) criados: GT Criminalização, GT Política de Drogas, GT Trans+ e GT de Seguridade Social. Também vai pincelar questões sobre direitos e deveres das PVHA, cuja carta de direitos fundamentais das pessoas vivendo com HIV/AIDS faz 20 anos, além de outros pontos não menos importantes.

Finalmente, elegemos nossas representações nacionais na Comissão Nacional de DST e AIDS (CNAIDS), para a Comissão de Articulação com os Movimentos Sociais (CAMS) e Comitê de Vacinas, instâncias do Departamento de DST/AIDS do Ministério da Saúde; definimos representantes para o Grupo Temático ampliado do UNAIDS no Brasil (GT UNAIDS) e para a REDLA+ (Rede Latino-americana de PVHA) e fizemos nossa indicação para o representante do movimento brasileiro de luta contra a AIDS no Conselho Nacional de Saúde, a ser referendado em novembro, em encontro de ONG/Aids de todo Brasil no Rio de Janeiro.

Além das questões políticas, é bom encontrar nossos pares, conhecidos, amigos e pessoas a quem nutrimos grande carinho. É bom rever pessoas como a gente, que apesar de viver com HIV, continuam sendo parte da solução e não o problema da epidemia de AIDS no mundo. Até 2011, em São Paulo. E viva a vida!

Publicado originalmente no site gay.com.br

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Saúde usa internet para prevenir a Aids

Twitter, redes sociais como Orkut e Facebook, divulgação maciça na internet. Esta é a estratégia do Ministério da Saúde para combater o HIV, vírus que provoca a Aids.

Em dezembro de 2007, uma das estratégias da campanha “Sua atitude tem muita força na luta contra a Aids” foi o lançamento de um blog, já tirado do ar. A campanha, que se propunha a sensibilizar pessoas da faixa etária dos 13 aos 24 anos, contava com outras estratégias de mídia além da veiculação de spots no rádio e de filmes publicitários na TV para atingir seus objetivos.

Desde a semana passada, o ministério vem trabalhando incansavelmente nas comunidades “Atitude contra a AIDS” no Orkut e no Facebook. ideia surgida a partir dos resultados da Pesquisa de Comportamento, Atitudes e Práticas 2008 (PCAP), que mostrou que 10,5% dos jovens já tiveram pelo menos um parceiro sexual que conheceram na internet.

“Antes as pessoas se relacionavam com seus vizinhos, amigos da escola, parceiros de trabalho, em círculos mais restritos. A internet abriu novas possibilidades de encontros”, afirmou a diretora do Departamento de DST e Aids, Mariângela Simão, quando da divulgação dos dados da PCAP.

O estudo sobre comportamento sexual mostrou que 61% dos jovens de 15 a 24 anos usaram camisinha na primeira relação sexual. Depois dela, porém, o uso cai – 50% das pessoas nessa faixa etária usam preservativo com os parceiros casuais. A redução mostra que, quando se estabelece uma relação de confiança entre os jovens, o preservativo deixa de ser prioridade. Por isso – afirma Mariângela Simão – é necessário usar novas formas de comunicação para tornar a mensagem sobre prevenção uma constante na vida do jovem.

Até duas semanas atrás, o ministério usava dois perfis distintos no Twitter. Um deles era exclusivo para divulgar dados e responder a dúvidas sobre a Gripe A, provocada pelo vírus H1N1. No outro perfil, a divulgação sobre o HIV, vírus que provoca a Aids. Os perfis foram unificados e o Ministério da Saúde pode ser acessado em um único no Twitter.

Cadastrados com perfil no Orkut podem acessar a comunidade “Atitude contra a Aids” aqui, que já tem 285 participantes. E no Facebook, aqui, com 313 fãs.

Além das comunidades no Orkut e no Facebook, estão previstos novos espaços direcionados para jovens no portal oficial do governo federal sobre Aids mantido na internet, além de uma atuação mais forte em páginas direcionadas a públicos específicos, como os gays.

sábado, 25 de julho de 2009

O lacinho vermelho

hoje sou só um lacinho vermelho
me rindo
me gozando
me bastando

hoje ainda sou um lacinho vermelho
de camisinha
te dizendo coisas sem sentido

hoje sou seu lacinho vermelho
sem camisinha

amanhã um lacinho vermelho
desbotado
esquecido


Simplesmente lindos os versos de Tetê no Com Camisinha.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Reality da Globo reflete preconceito social

Os meios de comunicação são muito engraçados, pra ser bem polite. Li na coluna 'Outro Canal', assinada pelo jornalista Daniel Castro, na Folha de S. Paulo, que a apresentação de 19 dos 20 candidatos que estarão na disputa pelo prêmio do reality show “No Limite 4”, da Rede Globo, foi atrasada. O motivo? Dos 19, “seis apresentaram problemas de saúde”, afirma o colunista. “Os exames realizados pela Globo revelaram que um deles tem HIV e que outro é cardíaco.”

Sabe o que é engraçado? É que no “Big Brother Brasil 9” uma das participantes tem diabetes. Inclusive, uma das broncas mais famosas do diretor do programa foi vista milhares de vezes no YouTube. Ana usava o alicate de unhas no pé de Naiá quando é ouvida a voz do diretor: “dona Ana Carolina, este é um aviso pra senhora e pra dona Naiá. Esse alicate não está esterilizado. A dona Naiá é diabética. Se esta merda inflamar, eu vou arrancar o seu braço. Então, para de brincar com o alicate”.

Quer dizer, a “emissora exige que os participantes de seus reality shows sejam saudáveis” para poder arrancar o braço deles. Ironias a parte, pode-se argumentar que “No Limite” é um reality no qual os participantes disputam prêmios em provas que exigem muito mais da resistência física do que o “Big Brother Brasil”, que é mais um jogo de estratégias de convivência.

O episódio revela que a Globo reflete o que acontece na sociedade: as empresas fazem o teste de HIV no exame médico admissional e editais de concursos proíbem o ingresso de soropositivos na carreira pública. Ambos são ilegais.

Assim como as empresas públicas ou privadas, a Globo não quer pessoas soropositivas em seu elenco. Mas, a próxima novela das 21h deve trazer, a exemplo de “Páginas da Vida”, depoimentos de pessoas portadoras de deficiência. Aí foram incluídas aquelas que adquiriram a deficiência pós-HIV. Parece que nós, pessoas que vivemos com Aids, somos incluídas apenas quando é para sensibilizar a sociedade. Na hora de nos ajudarem com acesso ao trabalho e a uma vida digna, não somos nada.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Correio brasileiro entra na luta contra a Aids

O Brasil será um dos primeiros países do mundo a começar uma campanha de prevenção à Aids pelos Correios. A informação, divulgada na manhã desta terça-feira, é do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS).


É cada vez maior a necessidade de informação sobre HIV/AIDS para toda a população. Ontem mesmo, no Twitter, um jovem brasileiro relacionou os sintomas da Aids àqueles que têm pessoas que, depois de anos sem comer carne, voltam a consumi-la.

Os cartazes, em pdf, estão disponíveis no site do UNAIDS. A campanha é uma iniciativa da União Postal Universal (UPU), do UNAIDS, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e UNI Global. Ainda que os cartazes tenham sido elaborados em português de Portugal, antes mesmo deles serem afixados nas agências brasileiras dos Correios, os textos devem passar por uma pequena reformulação.

Com o slogan “o Correio se preocupa com você. Proteja a si mesmo – use preservativo”, a iniciativa pretende colaborar para os objetivos do milênio, vai dispor cartazes primeiramente nas agências dos correios do Brasil, Burquina Fazo, Camarões, China, Estônia, Mali e Nigéria.

P.S. às 17h36: O escritório do UNAIDS no Brasil informa que a versão brasileira da campanha será lançada em agosto e que irá além dos cartazes para serem afixados nas agências dos Correios. Assim, mais do que uma simples readequação do texto, a campanha para o Brasil deve ser completamente reformulada.

domingo, 5 de julho de 2009

Estado é corresponsável por atentado a bomba pós Parada Gay

O jornal Folha de São Paulo traz a informação que a cidade, uma das quatro mais populosas do planeta, possui uma câmera para cada 16 habitantes. A matéria foi reproduzida na Folha Online. Segundo a reportagem, os dados “conservadores” são da Abese, associação das empresas de segurança eletrônica. “No momento em que sai de casa, todo mundo já passa a ser gravado. Tudo é possível de ser monitorado”, disse a presidente da entidade Selma Migliori ao repórter.

Pode ser. Mas, se pelo menos uma dessas câmeras, instalada há mais de um ano, estivesse em funcionamento, o atentado a bomba que sofreram participantes da 13ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo – a maior do mundo – teria sido registrado. A câmera instalada e ainda não ligada está bem na esquina do Largo do Arouche com a avenida Vieira de Carvalho, a menos de dez metros de um trailer policial e a poucos metros de onde ocorreu o atentado.

Obviamente que o poder público municipal tem, por inércia e omissão, responsabilidade no atentado, uma vez que, se estivesse em funcionamento, seria infinitamente mais fácil identificar se a bomba foi ou não atirada do edifício do qual se julga ter sido atirado o projétil caseiro. Esta e outras informações já são de conhecimento da polícia, que para não atrapalhar as investigações, ainda não as divulgou.

Homenagem
Dia 2 de junho passado fui homenageado, ao lado de Lula Ramirez e Denise Coelho, em sessão solene na Câmara Municipal de São Paulo, por termos iniciado as articulações que deram início à maior Parada do Orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) do mundo. A íntegra da homenagem, texto da amiga e antropóloga Regina Facchini, pode ser lido no portal da Fundação Perseu Abramo.

Proposta pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara, a homenagem em sessão solene me deixou muito feliz. Mas, como disse no meu agradecimento, ainda falta muito para que nós, lésbicas, gays, bissexuais e transexuais, possamos ser tratados pelo Estado e pela população como cidadãos, consumidores e contribuintes. Afinal, parte da homo e transfobia que assola a sociedade brasileira é que deixa vulneráveis a agressões, mortes e à infecção pelo HIV.

Desculpas
Estive estudando para uma prova que prestei no último dia 29 de junho. Tento entrar em um mestrado. Este foi o principal motivo pelo qual não atualizei o blog no mês passado. Por isso, peço desculpas a leitores e leitoras.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Fobia para além do HIV

No último domingo (17), foi comemorado (lembrado, recordado, celebrado) o Dia Mundial pelos Direitos Sexuais e de Combate à Homofobia. Em alusão à data, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) lançou campanha na América Latina e no Caribe para promover os direitos humanos de homossexuais, transexuais e lésbicas. No Brasil, a campanha foi lançada no dia 14, durante o VI Seminário LGBT no Congresso Nacional, em Brasília. Além do vídeo abaixo, outros cinco vídeos podem ser vistos na página do UNAIDS Brasil no You Tube.



A campanha “Pelos Direitos Sexuais e pela Diversidade Sexual” quer chamar a atenção para os obstáculos que a “homo-lesbo-transfobia” criam para as respostas à epidemia de Aids na América Latina e Caribe. Dados disponíveis sobre o tema demonstrou que a prevalência do HIV varia entre 6 e 20% em homens gays na região, proporção muito maior se comparada com os 0,6% de prevalência de HIV estimados para a população em geral (15 a 49 anos) no Brasil.

A homo-lesbo-transfobia (aversão, ódio, medo, preconceito ou discriminação contra homens ou mulheres homossexuais e também pessoas trans e bissexuais) contribui para o aumento das novas infecções pelo HIV e também para mortes por Aids, uma vez que a discriminação dificulta o acesso à informação sobre prevenção e também afasta essas populações dos serviços de saúde, mesmo que testes e medicamentos sejam disponibilizados pelos governos.

Em 17 de maio de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista de doenças mentais, razão pela qual neste dia se realiza o Dia Mundial pelos Direitos Sexuais e de Combate à Homofobia. Foi nesta ocasião que a OMS reconheceu que a orientação sexual não é uma “opção” e que também não se deve tentar modificá-la.

Elaborada pelos Escritórios para América Latina do UNAIDS e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a campanha foi elaborada com o apoio de redes de organizações não-governamentais como a REDLACTRANS (que mobiliza as populações trans da Região), a ASICAL (Associação para a Saúde Integral e Cidadania da América) e a LACCASO (Conselho Latino-Americano e do Caribe de Organizações Não Governamentais com Serviço em HIV/Aids).

Pedro Chequer, Coordenador do UNAIDS no Brasil, responsável pela adaptação da campanha, destacou que a “iniciativa busca dar visibilidade ao tema da discriminação e estigma como um fator acrescido de vulnerabilidade à infecção pelo HIV e estabelecer de modo mais permanente o debate social com vistas ao seu definitivo equacionamento”.

A questão homo-lesbo-transfobia passou sutilmente pelo “Profissão Repórter”, programa do experiente jornalista Caco Barcellos na TV Globo, que coloca jornalistas em começo de profissão em reportagens mais abrangentes. Na última terça-feira (19), com reportagem sobre escolas na periferia de São Paulo, o programa abordou um tema que é tabu no jornalismo. E mostrou uma família ainda inconformada com a morte de um menino de 14 anos que se suicidou por não aguentar mais ser discriminado e chamado de “bicha” na escola.

Atualmente, a escola é a maior referência educacional, uma vez que pais e mães que trabalham durante todo o dia deixaram à instituição e aos professores a tarefa de lapidar os filhos. Neste caso, como em muitos outros, além da escola, a discriminação e o preconceito é um “defeito hereditário”.

Porém, independentemente de “defeito” ou quaisquer outros adjetivos que possam ser dados, os programas de educação sexual nas escolas têm de ser fortalecidos e efetivamente implementados com a urgência que se faz necessária, ou estaremos dando suporte moral a uma nova geração preconceituosa.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

O HIV no banco dos réus

Na semana passada, enquanto os ministros Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes batiam boca durante sessão plenária do Supremo Tribunal Federal (STF), ao vivo para as câmeras da TV Justiça, um despacho do também ministro Marco Aurélio adiou uma discussão cujo veredicto deve caber mesmo à mais elevada corte do país.

(...) 2 (...) à míngua de elementos, não há como examinar o pedido de concessão de medida acauteladora. 3. Oficiem ao Superior Tribunal de Justiça, ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e ao Juízo da Comarca de Cosmópolis/SP, para prestarem informações a respeito dos fatos noticiados na impetração e providenciarem a remessa das peças mencionadas, necessárias ao exame do pedido nela formulado. 4. Ao impetrante, para, querendo, antecipar-se quanto às providências. 5. publiquem.

O despacho foi dado ao pedido de Habeas Corpus impetrado por Marcos Roberto Boni, advogado de J.G.J. “Ele foi denunciado por duas tentativas de homicídio qualificado (artigo 121, parágrafo 2º, II, do Código Penal) e uma tentativa de homicídio (artigo 121, caput), tipificação errônea, segundo seu defensor”, informa notícia publicada no portal do STF.

Para Boni, o acusado deveria ser enquadrado no artigo 131 do Código Penal (“praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio”). O argumento da defesa é embasado no fato de a AIDS não ser mais uma doença mortal, mas crônica.

A questão é polêmica. O ministro Marco Aurélio pediu informações mais consistentes aos tribunais responsáveis pelo processo, adiando a decisão que deve abrir jurisprudência para o julgamento de casos que criminalizam a transmissão do HIV.

O açougueiro J.G.J. teria sido infectado pela mulher, depois dela ter passado por uma transfusão de sangue. Após a morte da esposa, e ciente de sua condição sorológica, ele começou um relacionamento com uma moça e, numa noite, aproveitando que ela dormia profundamente, fez sexo com ela sem preservativos. Ele teria infectado uma segunda mulher um ano depois, depois de algum tempo de relacionamento. E ainda teria tentado infectar uma terceira mulher, que recusou fazer sexo sem preservativos.

Ainda que desprovido de bases jurídicas e aqui sem defender o indefensável sexo sem consentimento do caso em questão, é revoltante ver uma pessoa julgada por não usar preservativo numa relação sexual. Parece que a responsabilidade que todo e qualquer cidadão tem de cuidar da própria saúde é sempre do outro, nunca do “eu” mesmo. Ninguém transa sem camisinha sozinho. Por que determinado cidadão, no caso aquele que tem o HIV, é o único responsável pelo autocuidado de duas pessoas que decidiram, mesmo que não tenham conversado sobre o assunto, fazer sexo sem preservativo?

Se eu tenho responsabilidade, você também tem, ok? Combinamos que eu cuido de mim e você de si. O cidadão tem o direito à saúde. O dever de prover informação, serviços e acesso aos serviços de saúde é do Estado. Artigos 196 a 200 da Constituição Brasileira de 5 de outubro de 1988. E é na ponta que o Estado tem os meios de acolher e vincular o cidadão ao serviço de saúde.

Outra questão é a “espécie” de HIV. Será que são pedidos apenas para comparação os genótipos do HIV instalado tanto no réu quanto na “vítima”? Até quando vamos dividir as coisas e as pessoas em boas e ruins, em algozes e vítimas? Esses exames, até onde sei, confirmariam se o DNA do HIV de um é o mesmo do HIV do outro. Mas nem mesmo isso isenta ninguém da responsabilidade compartilhada.

É uma pena que ainda seja necessário transformar que alguns poucos em algozes e levá-los ao banco dos réus para transferir ao cidadão o que é dever do Estado. E o debate está aberto.

sábado, 4 de abril de 2009

Fórum virtual debate prevenção da AIDS

Começa mais uma iniciativa inédita no Brasil. O Programa Nacional de DST e AIDS (PN-DST/AIDS) do Ministério da Saúde lança nesta segunda-feira (06), o Prevenção na Rede: Fórum Virtual de DST e AIDS, que debaterá com a sociedade, na internet, experiências inovadoras na área de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis.

Para a discussão, foi criado um espaço na internet organizado em salas específicas (veja abaixo), nas quais serão debatidos os desafios para o enfrentamento da epidemia. Com a ação inédita, o PN-DST/AIDS “avança na construção de políticas que respondam ao momento atual dessas doenças”. Os debates vão até 29 de abril e o fórum estará aberto para consulta até setembro.

A expectativa é que participem gestores e profissionais de saúde, educadores, ativistas, pesquisadores e demais interessados. Para fazer parte, basta acessar o site do PN-DST/AIDS nesta segunda-feira, dia do lançamento do fórum virtual. O internauta terá acesso a vídeos, artigos científicos, protocolos, diretrizes e outros documentos sobre prevenção e também a troca experiências por todo o Brasil sobre os temas mais desafiadores da prevenção. Entre os destaques da programação, às quartas-feiras, estão previstos bate-papos com especialistas.

“Num cenário de epidemia dinâmica, as estratégias de prevenção precisam ser construídas e reconstruídas ao longo do tempo, respondendo às necessidades dos grupos mais afetados e adotando novos recursos disponíveis”, afirma a diretora do programa, Mariângela Simão.

Ela justifica que “diferentemente dos primeiros anos da AIDS o desafio que está posto hoje é responder a uma epidemia ainda concentrada, mas com a maior parte dos casos por transmissão heterossexual e com um aumento significativo da qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e AIDS”.

O trabalho será concluído no Encontro Nacional sobre Prevenção das DST/Aids, que será realizado 29 de abril e transmitido pela internet. Nesse dia, especialistas em prevenção irão debater com o Programa Nacional, em Brasília, as principais contribuições do fórum. Participantes de todo o Brasil também poderão interagir, enviando comentários. A organização do evento estimula que cada cidade se articule para participar do dia 29 de abril e dar continuidade à discussão no nível local, mesmo depois do encerramento do fórum.

As salas de discussão do Prevenção na Rede: Fórum Virtual de DST e AIDS:
- Informação muda comportamento?
- Tecnologias biomédicas: remediar é prevenir?
- Como o CTA pode ajudar no acesso universal à prevenção?
- Atenção Básica: solução para o acesso universal à prevenção?
- Quebrando tabus: dst/aids é assunto para crianças e jovens?
- Prevenção e religião: conflitos ou contribuições?
- Sexo, prevenção e viver com HIV
- Álcool e outras drogas: prevenção é para os "lúcidos”?
- Acesso ao teste de HIV: onde estão as oportunidades?
- A sociedade civil e o acesso universal à prevenção
- De quem é a decisão de se prevenir?
- DST: como encarar esse problema?

quarta-feira, 18 de março de 2009

Vaticano não sai da Idade Média

“O papa vive no século XXI?”, questionou Alain Fogue, do Movimento Camaronês pelo Acesso aos Tratamentos (MOCPAT). Durante a viagem que fez ontem do Vaticano a Camarões, Bento XVI disse que a AIDS “não pode ser derrotada com a distribuição de preservativos”, mas que “aumenta o problema”.

“Queira ou não, de cada 100 católicos, 99 usam preservativo. O papa deve entender que a carne é fraca! Será que o papa desconhecia, ao chegar a Camarões, que as pessoas soropositivas representam um número importante da população?”, acrescentou o ativista africano, segundo a Agência France Press (AFP).

Eric Chevallier, porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros da França, manifestou a “mais viva inquietação” diante das declarações papais. “Não nos cabe julgar a doutrina da Igreja, mas consideramos que tal proposta põe em risco as políticas de saúde pública e os imperativos de proteção da vida humana”, disse o francês à Rádio e Televisão Portuguesa (RTP).

Mas, por quê o ministério de Negócios Estrangeiros faria uma declaração relacionada à saúde pública? Ora, simplesmente porque, com os 900 milhões de euros nos últimos três anos de contribuição ao Fundo Global de Luta contra a Aids, a Tuberculose e a Malária, a França “é o segundo contribuinte mundial e o primeiro europeu”.

Acostumados com as declarações a respeito da procriação e da sexualidade humanas, ativistas e o governo brasileiro não se pronunciaram. Mas deveriam, pois a próxima visita do pontífice na África será em Angola, país com o qual o Brasil mantém relações de cooperação em questões relacionadas ao HIV/AIDS. Entretanto, o médico sanitarista Pedro Chequer, coordenador do UNAIDS no Brasil classificou as declarações papais de “genocidas”.

“É lamentável que após toda a luta da sociedade para o controle da aids tenhamos uma pregação genocida. Há segmentos que só reconhecem os erros após cinco séculos, só que lidamos com um bem maior que é a vida e não podemos esperar cinco séculos”, afirmou Chequer ao jornal O Estado de São Paulo.

Não é à toa que a Igreja vem, há décadas, perdendo fiéis em todo o mundo. A cada declaração papal a humanidade se depara com uma possível resposta à questão de Fogue: o Vaticano jamais sairá da Idade Média.

sábado, 7 de março de 2009

Mulher, fêmea, feminina

Esperei por uma peça publicitária do Programa Nacional de DST/Aids em parceria com a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres da Presidência da República sobre a questão da saúde sexual e dos direitos reprodutivos das mulheres. Não rolou. Ou não consegui encontrar. Enfim, não achei.

Mas trago aqui duas coisas que transformo em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. A primeira é um vídeo com trecho de especial da Rita Lee nos anos 80, no qual ela canta “Cor de rosa choque”.



O outro, é nota assinada pela Dra. Mariângela Simão, diretora do Programa Nacional de DST/Aids, que reproduzo abaixo. Vale a pena ler.

Não se esqueça das mulheres que vivem com HIV
O dia 8 de março é um momento de reflexão sobre os direitos das mulheres. Este ano, o Programa Nacional de DST e Aids traz mais um importante tema para debate: a sexualidade das brasileiras que vivem com HIV. Existe na sociedade um senso comum de que a vida sexual e reprodutiva delas acaba após o diagnóstico da doença. É como se, ao receber o resultado positivo, fosse tirado dessas mulheres o seu direito de se relacionar e de ser mãe.

O preconceito é tão forte que se reflete até entre os formadores de opinião. No ano passado, um jornalista em Brasília afirmou em rede nacional que mulheres que sabem que têm aids não deveriam engravidar. A declaração mostra total desconhecimento sobre o tema, nega os avanços científicos nessa área e viola os direitos sexuais e reprodutivos, reconhecidos nacional e internacionalmente como direito humano.

As mulheres que vivem com HIV têm sim o direito de exercer a sua sexualidade e de ter os seus bebês, assim como qualquer outra mulher. O desejo de ter filhos não pode ser um tabu e deve ser discutido nos serviços de saúde. As mulheres precisam ter acesso às informações sobre as formas mais seguras de concepção, sobre os cuidados necessários durante a gestação, o parto e a vida do bebê. Os números mostram que, quando as medidas de prevenção de transmissão vertical são adotadas corretamente, as chances de a criança nascer soropositiva são menores que 1%.

As mulheres que vivem com HIV precisam decidir livremente e com responsabilidade sobre a reprodução. Além disso, mesmo que não desejem ser mães, elas têm o direito de exercer sua sexualidade sem preconceito ou discriminação.

O governo federal garante o tratamento universal para a aids e o acesso ao preservativo nos serviços de saúde. A camisinha contribui para a qualidade de vida dessa geração que convive com o vírus por muito mais tempo do que no início da epidemia. O seu uso é uma demonstração de autocuidado e de respeito com quem se ama.

O desejo do Programa Nacional de DST e Aids é que este Dia Internacional da Mulher seja especial para as brasileiras que vivem com HIV. Que elas possam renovar sonhos, exercendo sua cidadania.

Todos têm o direito de viver plenamente: homens e mulheres, soropositivos ou não.

Mariângela Simão
Diretora do Programa Nacional de DST e Aids

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Bloco da Mulher Madura mantém rima e superficialidade

“Mais de 70% das mulheres acima de 50 anos não usam camisinha”. Com este título, o Ministério da Saúde (MS) e a Secretaria Especial de Politicas para as Mulheres da Presidência da República iniciam o press release sobre o “Bloco da Mulher Madura”, tema da campanha do carnaval 2009 lançada na manhã desta sexta-feira (13) na Cidade do Samba, no Rio de Janeiro. Segundo o material, os dados fazem parte de pesquisa do MS realizada no ano passado. O objetivo é sensibilizar os 72% de mulheres acima dos 50 anos que não usam preservativo nas relações sexuais casuais.



Se a intenção é boa, a realização deixa a desejar. Quando tive oportunidade de expressar minha opinião sobre a campanha do Dia Mundial de Luta contra a AIDS, calcada no “Clube dos Enta”, fui classificado de mau-humorado pra baixo. Chegaram a dizer que eu não havia gostado porque não compunha mais o GT de Comunicação do Programa Nacional de DST/AIDS etc.

Na avaliação que fiz, disse que a campanha parecia ter sido feita para o carnaval e não para o Dia Mundial, que segundo meu ponto de vista é uma data para celebrar – e não comemorar – a memória das vítimas da AIDS. Hoje, com o lançamento da campanha de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e do HIV para o carnaval de 2009, ratifico meus comentários.

Mudou a presidenta do “Clube dos Enta” e entrou a compostura do “Bloco da Mulher Madura”, o que significa que tanto um vídeo quanto o outro poderiam ser exibidos em quaisquer das únicas datas nas quais as campanhas oficiais são veiculadas.

Como ao contrário da minha avaliação o “Clube dos Enta” foi bem recebido, espero que o “Bloco da Mulher Madura” tenha recepção ainda melhor, maior e que tanto homens quanto mulheres, acima e abaixo dos 50 anos, tenham em mente que o HIV é democrático, pois não escolhe idade, orientação sexual e, muito menos rima.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Camisinha invade carnaval de São Paulo

As camisinhas vão invadir o carnaval 2009 de São Paulo. Estreou na última segunda-feira (09) na Rede São Paulo Saudável – serviços de saúde da cidade que possuem aparelhos de TV –, dois novos vídeos sobre prevenção da infecção pelo vírus HIV no carnaval. Os spots, com menos de um minuto cada um, também são vistos pelos milhões de pessoas que utilizam os ônibus municipais.

Em uma das peças, a mulata Camila Silva, rainha do carnaval paulistano de 2009, explica a telespectadores a importância do uso do preservativo para proteção contra o HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis. Apesar da mensagem clara, com legendas, a entonação e a pontuação da mulata deixa muito a desejar. Mas o recado é transmitido. Felizmente, a população que deve assistir ao vídeo não deve ter as mesmas exigências que as minhas.


Mas o melhor spot é protagonizado pelo Thobias, presidente da Vai-Vai, escola de samba que, se não me engano, tem o maior número de títulos do carnaval paulistano. Assim como a agremiação, Thobias é uma das personalidades mais respeitadas e tradicionais do carnaval de São Paulo. No vídeo, ele canta um trecho do samba-enredo da escola misturado a uma nova estrofe feita especialmente para a peça de prevenção.


O mais interessante é que os protagonistas dos spots não foram escolhidos do nada. Neste ano, a Vai-Vai levará ao sambódromo paulistano enredo sobre a saúde mundial. Para quem não vai à avenida, como eu, a Rede Globo transmitirá os desfiles do carnaval de São Paulo na sexta-feira (20) e no sábado (21), depois de “Caminho das Índias”.

Está programada para esta sexta-feira (13), o lançamento, no Rio de Janeiro, da campanha de carnaval 2009 do Programa Nacional de DST/AIDS, que depois do “Clube dos Enta”, terá o “Bloco da Mulher Madura” como tema. Assim que eu tiver acesso, farei, como de costume, meus comentários. Estamos no aguardo.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Entre as ações e o campanhismo

Em continuidade à Campanha do Dia Mundial de Luta contra a AIDS de 2008, que teve como foco a prevenção do HIV em homens heterossexuais com mais de 50 anos e no “Clube dos Enta”, seu apelo central, o Programa Nacional (PN) de DST e AIDS dará prioridade à população feminina na mesma faixa etária e lançará no carnaval de 2009 o “Bloco da Mulher Madura”.

Nota publicada na página do PN-DST/AIDS informa que “a campanha é uma resposta à maior tendência de crescimento da epidemia entre mulheres. Além disso, a mulher nessa idade tem pouco poder de decisão no relacionamento”.

Ainda segundo a nota, os objetivos da campanha são incentivar a mulher a falar de sexualidade e preservativo com seu parceiro sexual, informar sobre as vantagens do uso do gel lubrificante na faixa etária eleita, estimular a busca do prazer na relação, inclusive após a menopausa, e fortalecer a auto-estima feminina para que a mulher possa exercer sua sexualidade.

A justificativa do foco foi embasada nos dados epidemiológicos, que mostram quase o dobro de casos de AIDS na faixa etária e na população priorizada em dez anos (de 7,3 em 96 para 14,5 em 2006) e um significativo aumento de mortalidade (de 5,5 para 6,1) no mesmo período.

Desde o último dia 30 de janeiro, as artes dos materiais gráficos (folheto, cartaz e mobiliário urbano) produzidos pelo Ministério da Saúde são disponibilizadas a estados e municípios brasileiros se solicitadas por correio eletrônico. Além destes, também foram produzidos uma peça publicitária para a TV e outra para o rádio.

O Programa Municipal de DST/AIDS de São Paulo ampliou o foco das ações na cidade. É a população sexualmente ativa que deve ser priorizada, além das mais vulneráveis à infecção pelo HIV, como homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas e profissionais do sexo. Concordo, afinal não é a mulher quem usa o preservativo, ainda que elas sejam mais sensíveis às questões de saúde sexual do que os homens.

Além das já tradicionais ações de prevenção na rodoviária do Tietê protagonizada pelo Grupo Pela Vidda/SP – apenas apoiada pelo município –, da distribuição de preservativos no sambódromo do Anhembi e nos blocos pré-carnavalescos que tomam a cidade na semana anterior aos festejos de Momo, o programa paulistano tem feito ações em escolas de samba e, no ano passado “invadiu” as torcidas dos três maiores times de futebol da cidade durante seus jogos.

Com mais esta ação, o programa de São Paulo reforça a disposição de atuar na prevenção do HIV em campo que amplia as ações para além das populações com maior vulnerabilidade e mostra que tem paulatinamente incorporado sugestões da sociedade civil para a realização de ações mais periódicas, fugindo da crítica generalizada aos gestores de AIDS no Brasil que privilegiam apenas a produção de campanhas publicitárias para o carnaval e para o Dia Mundial.

Se tivesse poder de decisão, de consulta ou de interferência, teria dito aos idealizadores do “Bloco da Mulher Madura” que é o homem quem precisa ser sensibilizado. Preferencialmente por outro homem, heterossexual e vivendo com HIV. A conversa tem de ser de homem pra homem. Estou sendo machista? Talvez. Mas sinto que não se pode adotar um discurso diferente do que está no inconsciente coletivo. Enfim, o meu é apenas um ponto de vista.

sábado, 31 de janeiro de 2009

A crise no divã virtual

Depois de mais de 40 dias sem postar única linha, aproveito este primeiro post de 2009 para desejar a amig@s e leitor@s votos que este seja um ano de realizações, de saúde e de conquistas. Se é verdade que as crises trazem oportunidades, que esta nos traga novos horizontes e perspectivas, e criatividade pra colocar ideias e ideais em prática.

Afora o colapso do sistema financeiro que deflagrou a atual “crise de confiabilidade nos mercados”, final de ano e começo de outro é tradicionalmente difícil pra mim. No ano passado consegui superar essa maré ao trazer estas SaudAids à blogosfera. Atualmente, esta tarefa está particularmente árdua.

A verdade é que entrei em mais um processo de autoconhecimento. É, estou envelhecendo e isso tem sido extremamente sofrido. Dias atrás assisti a “O curioso caso de Benjamin Button”. Desde então tenho me flagrado refletindo sobre a magnitude da vida e a inexorável aproximação da morte.

A história do bebê que nasce velho e com o passar dos anos vai rejuvenescendo até padecer como um bebê pode ser associada àqueles momentos da vida nos quais sonhamos voltar 20 anos com a experiência do momento. Parece mesmo melhor o curso natural da vida.

Apesar de o CD4 permanecer estável em torno de 600 cópias/ml³ e minha carga viral continuar indetectável, o colesterol atingiu 260. Isso significa que posso ter um acidente vascular cerebral (AVC) ou um infarto do miocárdio.

“Você tem histórico de doença cardiovascular na família?”, perguntou minha médica. “Do lado materno ou paterno?”, respondi com minha peculiar ironia. Combinamos de esperar o resultado da próxima bateria parcial de exames, sem carga viral e CD4, para discutir o que faremos.

Mas o horizonte é claro: às vésperas de completar 47 anos, vou ter de reformular meu estilo de vida. Bebo pouquíssimo e minha alimentação é bem saudável. Mas fumo e não faço exercícios físicos. Não é tão fácil como mudar o sistema operacional do computador, o que fiz recentemente ao deixar o monopólio e migrar para o Linux.

Tenho impressão que a cada ano alguma coisa tem de morrer para outra nascer. E a sensação de que enquanto não deixar essa coisa morrer definitivamente, outra nova pessoa vai sempre querer nascer. Então, que venha o nascimento!