quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A Dança dos Famosos, segundo Beto Volpe

No artigo Dança dos Famosos, publicado originalmente no jornal A Tribuna do Litoral Paulista desta quarta-feira, que o autor reproduz no blog Carga Viral, Beto Volpe aborda um aspecto da AIDS pouco divulgado, os efeitos colaterais dos antirretrovirais, que causaram a morte do ator Rodolfo Bottino.

Vítima de uma embolia cardiovascular em trabalho pré-operatório para uma cirurgia de quadril, provocada por uma osteonecrose, a morte de Bottino não foi por AIDS, mas foi causada pelos efeitos dos medicamentos que o ator tomava para conter a doença. A reflexão do ativista é mais do que oportuna, pois cânceres, demência, osteonecrose e doenças degenerativas têm acometido mais as pessoas que vivem com HIV em tratamento antirretroviral.

Recomendo a leitura do post e de toda a Carga Viral de Beto Volpe.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Ex-presidente do CNS alerta sobre golpe contido na Carta de Brasília

O ex-presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Francisco Batista Júnior, divulgou hoje um manifesto alertando para o golpe contido na Carta de Brasília (divulgada aqui, no post abaixo).
Segundo Batista Júnior, a carta vai contra muitas das propostas aprovadas e é favorável a propostas derrotadas na 14ª Conferência Nacional de Saúde, que ele nomeia como a mais melancólica de todas.
Com os delegados voltando às suas bases, começam a pipocar propostas de ações judiciais contra a aprovação da carta, que teria ferido o regimento e regulamento da Conferência.
Em respeito ao direito do contraditório, premissa básica do jornalismo, divulgo abaixo o manifesto do ex-presidente do CNS, na íntegra.


A vergonhosa e melancólica 14ª Conferência Nacional de Saúde
por Francisco Batista Júnior (*)

Desde a 13ª Conferência Nacional de Saúde em 2007, a maior e mais democrática Conferência realizada pós Constituição Federal, - que transcorreu sob a absoluta normalidade e que começou e terminou sob aplausos, - que determinados atores passaram a defender alguma “outra coisa” além do Relatório Final que mostrasse não somente o embate entre propostas vencedoras e derrotadas, mas que contemplasse outras “questões importantes”. Isso aconteceu em consequência da estrondosa derrota da proposta de Fundação Estatal de direito privado, o que acabou expondo o governo sobremaneira.
De lá para cá isso passou a ser “costurado” intramuros, ao mesmo tempo em que se deflagrou uma desonesta campanha contra a referida Conferência, esquecendo deliberadamente que dentre outras inúmeras coisas, foi a primeira que realizou, por exemplo, o mais aprofundado debate sobre saúde e qualidade de vida, aliás o seu tema central. A ideia era esconder as grandes polêmicas e os grandes dissensos, jogando-os para “debaixo do tapete”. O plano era não passar a ideia de vencedores e vencidos e de um grande consenso entre todos os participantes, o que, convenhamos, é absolutamente impossível na atual conjuntura e na correlação de forças que enfrentamos.
A “carta de Brasília” foi o instrumento pensado. O tiro saiu pela culatra na 14ª Conferência Nacional de Saúde que acabou de acontecer em Brasília, apesar de não ter havido qualquer articulação contra a dita cuja, pela absoluta falta de tempo e por desconhecimento do seu teor. A dita “carta”, construída durante a Conferência a partir de sucessivas reuniões a portas fechadas com entidades, instituições e movimentos, que foram um a um contemplados de alguma forma nas suas reivindicações, feriu o regulamento da Conferência, foi imposta ao Plenário que não a queria, da forma mais autoritária que já vi na minha militância; trata-se na verdade de um relatório paralelo, uma verdadeira tese que deixa o relatório final e as diferenças em segundo plano e principalmente, não faz qualquer referência às Organizações Sociais (OS), Organizaçõpes da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), Fundações, Empresas e outros “parceiros” privados, enquanto GERENTES dos serviços do SUS.
A questão crucial da “carta” não é o seu conteúdo que contempla de alguma forma quase tudo que reivindicamos para o Sistema Único de Saúde. Mas ao mesmo tempo, também é (de conteúdo), e isso é o principal e essencial para nós, uma vez que se transforma num relatório paralelo e deixa “brechas” para que principalmente, se continue aprofundando o processo de privataria do SUS.
Qualquer um desses instrumentos de GERÊNCIA de serviços acontece ou pode acontecer com GESTÃO estatal e SUS 100% público, sem privatização da GESTÃO, sem dupla porta e tudo o mais que está na “carta”. Mas a GERÊNCIA, de acordo com a “carta”, não está proibida explicitamente de ser exercida pelas OS, OSCIP e todos os demais “parceiros” tão ardorosamente defendidos por alguns/muitos, como novos “paradigmas” do SUS.
Além disso, outras questões colocadas na “carta”, como a taxação de movimentação financeira, que EU defendo mas que foi derrotada na Conferência, estão lá contempladas. Além de tudo isso, não foi permitido de jeito nenhum questão de ordem ou qualquer possibilidade de defesa a favor ou contra o texto que só foi lido na hora da apresentação, muito menos que outros atores da Conferência, como nós do movimento, pudessem apresentar um texto alternativo que até elaboramos quando tomamos conhecimento do que estava em curso, mas que teve autoritariamente cerceada qualquer possibilidade de ser apresentado, depois que a Coordenação da Conferência resolveu, mesmo contra uma manifestação majoritária do Plenário, apresentar o texto “oficial”. O texto que elaboramos era, sim, uma Carta Política e não um novo e paralelo relatório.
Por tudo isso, o que aconteceu na 14ª Conferência Nacional de Saúde foi muito grave. É um grave precedente de método. É um grave precedente de conteúdo. É um precedente perigoso de possibilidade não somente de esvaziamento, mas também de burla ao relatório Final da Conferência, que é o legítimo e democrático produto dos debates. De acordo com o teor da “carta”, qualquer gestor pode continuar tranquilamente praticando a privataria da GERÊNCIA dos serviços do SUS. A “carta” é omissa sobre isso, ao contrário do relatório. Sabemos bem que existem gestores e gestores. Alguns, entenderão a “carta” como o “instrumento democrático” que lhes autoriza a continuar aprofundando a privataria com OS, OSCIP, fundações e congêneres.
A 13ª entrou na história como a que teve a maior participação das últimas Conferências de Saúde, a mais democrática e transparente, a mais organizada; contou com a participação do Presidente Lula na sua abertura, que começou e acabou sob aplausos e foi encerrada com tod@s @s delegad@s emocionad@s cantando o hino nacional. A 14ª começou sob protestos, não teve a presença da Presidenta Dilma, teve gravíssimos problemas na abertura que foi irresponsavelmente transformada num palanque político, na votação do Regulamento, nos grupos de trabalho, uma Plenária Final sem que se disponibilizasse imediatamente os relatórios consolidados, teve o golpe final da “carta”, e acabou sem que o Ministro da Saúde conseguisse fazer o discurso final em função das vaias e protestos.
Aliás, o hino nacional foi colocado desesperadamente em todo o volume para tentar abafar as vaias e protestos que insistiam em não silenciar. Já estão em curso várias denúncias sobre o que aconteceu e possíveis ações judiciais contra a dita “carta”. Nunca antes na história desse país se viu coisa igual. Lamentável!
Por tudo isso, as nossas manifestações são absolutamente fundamentais sob pena de colocar em risco tudo o que penosamente construímos como experiência de democracia participativa no SUS.

* Francisco Batista Júnior é ex-presidente Conselho Nacional de Saúde

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

CNS defende o SUS em carta à sociedade

Terminou neste domingo (4/12), a 14ª Conferência Nacional de Saúde. A plenária final aprovou, além das propostas e moções debatidas durante os cinco dias, carta à sociedade brasileira, reproduzida abaixo. Apesar de longa, vale a pena ler para saber que rumos a Saúde Pública brasileira deve tomar nos próximos anos. A carta também pode ser acessada no site do Conselho Nacional de Saúde.

CARTA DA 14ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE À SOCIEDADE BRASILEIRA
Todos usam o SUS: SUS na Seguridade Social! Política Pública, Patrimônio do Povo Brasileiro
Acesso e Acolhimento com Qualidade: um desafio para o SUS
Nestes cinco dias da etapa nacional da 14ª Conferência Nacional de Saúde reunimos 2.937 delegados e 491 convidados, representantes de 4.375 Conferências Municipais e 27 Conferências Estaduais.
Somos aqueles que defendem o Sistema Único de Saúde como patrimônio do povo brasileiro.
Punhos cerrados e palmas! Cenhos franzidos e sorrisos.
Nossos mais fortes sentimentos se expressam em defesa do Sistema Único de Saúde.
Defendemos intransigentemente um SUS Universal, integral, equânime, descentralizado e estruturado no controle social.

Os compromissos dessa Conferência foram traçados para garantir a qualidade de vida de todos e todas.
A Saúde é constitucionalmente assegurada ao povo brasileiro como direito de todos e dever do Estado. A Saúde integra as políticas de Seguridade Social, conforme estabelecido na Constituição Brasileira, e necessita ser fortalecida como política de proteção social no País.
Os princípios e as diretrizes do SUS - de descentralização, atenção integral e participação da comunidade - continuam a mobilizar cada ação de usuários, trabalhadores, gestores e prestadores do SUS.
Construímos o SUS tendo como orientação a universalidade, a integralidade, a igualdade e a equidade no acesso às ações e aos serviços de saúde.
O SUS, como previsto na Constituição e na legislação vigente é um modelo de reforma democrática do Estado brasileiro. É necessário transformarmos o SUS previsto na Constituição em um SUS real.
São os princípios da solidariedade e do respeito aos direitos humanos fundamentais que garantirão esse percurso que já é nosso curso nos últimos 30 anos em que atores sociais militantes do SUS, como os usuários, os trabalhadores, os gestores e os prestadores, exercem papel fundamental na construção do SUS.
A ordenação das ações políticas e econômicas deve garantir os direitos sociais, a universalização das políticas sociais e o respeito às diversidades etnicorracial, geracional, de gênero e regional. Defendemos, assim, o desenvolvimento sustentável e um projeto de Nação baseado na soberania, no crescimento sustentado da economia e no fortalecimento da base produtiva e tecnológica para diminuir a dependência externa.
A valorização do trabalho, a redistribuição da renda e a consolidação da democracia caminham em consonância com este projeto de desenvolvimento, garantindo os direitos constitucionais à alimentação adequada, ao emprego, à moradia, à educação, ao acesso à terra, ao saneamento, ao esporte e lazer, à cultura, à segurança pública, à segurança alimentar e nutricional integradas às políticas de saúde.
Queremos implantar e ampliar as Políticas de Promoção da Equidade para reduzir as condições desiguais a que são submetidas as mulheres, crianças, idosos, a população negra e a população indígena, as comunidades quilombolas, as populações do campo e da floresta, ribeirinha, a população LGBT, a população cigana, as pessoas em situação de rua, as pessoas com deficiência e patologias e necessidades alimentares especiais.
As políticas de promoção da saúde devem ser organizadas com base no território com participação inter-setorial articulando a vigilância em saúde com a Atenção Básica e devem ser financiadas de forma tripartite pelas três esferas de governo para que sejam superadas as iniquidades e as especificidades regionais do País.
Defendemos que a Atenção Básica seja ordenadora da rede de saúde, caracterizando-se pela resolutividade e pelo acesso e acolhimento com qualidade em tempo adequado e com civilidade.
A importância da efetivação da Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher, a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos, além da garantia de atenção à mulher em situação de violência, contribuirão para a redução da mortalidade materna e neonatal, o combate ao câncer de colo uterino e de mama e uma vida com dignidade e saúde em todas as fases de vida.
A implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra deve estar voltada para o entendimento de que o racismo é um dos determinantes das condições de saúde. Que as Políticas de Atenção Integral à Saúde das Populações do Campo e da Floresta e da População LGBT, recentemente pactuadas e formalizadas, se tornem instrumentos que contribuam para a garantia do direito, da promoção da igualdade e da qualidade de vida dessas populações, superando todas as formas de discriminação e exclusão da cidadania, e transformando o campo e a cidade em lugar de produção da saúde. Para garantir o acesso às ações e serviços de saúde, com qualidade e respeito às populações indígenas, defendemos o fortalecimento do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. A Vigilância em Saúde do Trabalhador deve se viabilizar por meio da integração entre a Rede Nacional de Saúde do Trabalhador e as Vigilâncias em Saúde Estaduais e Municipais. Buscamos o desenvolvimento de um indicador universal de acidentes de trabalho que se incorpore aos sistemas de informação do SUS.
Defendemos o fortalecimento da Política Nacional de Saúde Mental e Álcool e outras drogas, alinhados aos preceitos da Reforma Psiquiátrica antimanicomial brasileira e coerente com as deliberações da IV Conferência Nacional de Saúde Mental.
Em relação ao financiamento do SUS é preciso aprovar a regulamentação da Emenda Constitucional 29. A União deve destinar 10% da sua receita corrente bruta para a saúde, sem incidência da Desvinculação de Recursos da União (DRU), que permita ao Governo Federal a redistribuição de 20% de suas receitas para outras despesas. Defendemos a eliminação de todas as formas de subsídios públicos à comercialização de planos e seguros privados de saúde e de insumos, bem como o aprimoramento de mecanismos, normas e/ou portarias para o ressarcimento imediato ao SUS por serviços a usuários da saúde suplementar. Além disso, é necessário manter a redução da taxa de juros, criar novas fontes de recursos, aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para a saúde, tributar as grandes riquezas, fortunas e latifúndios, tributar o tabaco e as bebidas alcoólicas, taxar a movimentação interbancária, instituir um percentual dos royalties do petróleo e da mineração para a saúde e garantir um percentual do lucro das empresas automobilísticas.
Defendemos a gestão 100% SUS: sistema único e comando único, sem “dupla-porta”, contra a terceirização da gestão e com controle social amplo. A gestão deve ser pública e a regulação de suas ações e serviços deve ser 100% estatal, para qualquer prestador de serviços ou parceiros. Precisamos contribuir para a construção do marco legal para as relações do Estado com o terceiro setor. Defendemos a profissionalização das direções, assegurando autonomia administrativa aos hospitais vinculados ao SUS, contratualizando metas para as equipes e unidades de saúde. Defendemos a exclusão dos gastos com a folha de pessoal da Saúde e da Educação do limite estabelecido para as Prefeituras, Estados, Distrito Federal e União pela Lei de Responsabilidade Fiscal e lutamos pela aprovação da Lei de Responsabilidade Sanitária.
Para fortalecer a Política de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde é estratégico promover a valorização dos trabalhadores e trabalhadoras em saúde, investir na educação permanente e formação profissional de acordo com as necessidades de saúde da população, garantir salários dignos e carreira definida de acordo com as diretrizes da Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS, assim como, realizar concurso ou seleção pública com vínculos que respeitem a legislação trabalhista e assegurem condições adequadas de trabalho, implantando a Política de Promoção da Saúde do Trabalhador do SUS.
Visando fortalecer a política de democratização das relações de trabalho e fixação de profissionais, defendemos a implantação das Mesas Municipais e Estaduais de Negociação do SUS, assim como os protocolos da Mesa Nacional de Negociação Permanente em especial o de Diretrizes Nacionais da Carreira Multiprofissional da Saúde e o da Política de Desprecarização. O Plano de Cargos, Carreiras e Salários no âmbito municipal/regional deve ter como base as necessidades loco-regionais, com contrapartida dos Estados e da União.
Defendemos a adoção da carga horária máxima de 30 horas semanais para a enfermagem e para todas as categorias profissionais que compõem o SUS, sem redução de salário, visando cuidados mais seguros e de qualidade aos usuários.
Apoiamos ainda a regulamentação do piso salarial dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), Agentes de Controle de Endemias (ACE), Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e Agentes Indígenas de Saneamento (AISAN) com financiamento tripartite.
Para ampliar a atuação dos profissionais de saúde no SUS, em especial na Atenção Básica, buscamos a valorização das Residências Médicas e Multiprofissionais, assim como implementar o Serviço Civil para os profissionais da área da saúde. A revisão e reestruturação curricular das profissões da área da saúde devem estar articuladas com a regulação, a fiscalização da qualidade e a criação de novos cursos, de acordo com as necessidades sociais da população e do SUS no território.
O esforço de garantir e ampliar a participação da sociedade brasileira, sobretudo dos segmentos mais excluídos, foi determinante para dar maior legitimidade à 14ª Conferência Nacional de Saúde. Este esforço deve ser estendido de forma permanente, pois ainda há desigualdades de acesso e de participação de importantes segmentos populacionais no SUS.
Há ainda a incompreensão entre alguns gestores para com a participação da comunidade garantida na Constituição Cidadã e o papel deliberativo dos conselhos traduzidos na Lei nº 8.142/90. Superar esse impasse é uma tarefa, mais do que um desafio.
A garantia do direito à saúde é, aqui, reafirmada com o compromisso pela implantação de todas as deliberações da 14ª Conferência Nacional de Saúde que orientará nossas ações nos próximos quatro anos reconhecendo a legitimidade daqueles que compõe os conselhos de saúde, fortalecendo o caráter deliberativo dos conselhos já conquistado em lei e que precisa ser assumido com precisão e compromisso na prática em todas as esferas de governo, pelos gestores e prestadores, pelos trabalhadores e pelos usuários.
Somos cidadãs e cidadãos que não deixam para o dia seguinte o que é necessário fazer no dia de hoje. Somos fortes, somos SUS.

COMISSÃO ORGANIZADORA DA 14ª CNS
Brasília, DF, 04/12/11.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Em defesa do SUS


Hoje pela manhã, durante a mesa central: acesso e acolhimento com qualidade um desafio para o SUS, as apresentações foram interrompidas por uma manifestação formada por delegados de vários estados em defesa do SUS e contra as privatizações.  Muito pertinente, a manifestação foi apoiada por todos.  

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Contra a privatização da saúde


Apesar do tema da conferência ser acesso e acolhimento com qualidade um desafio para o SUS, as manifestações dos participantes foram todas no sentido de exigirem um SUS público e combater a privatização.

Qual era mesmo o 'público-alvo' da campanha?

A maioria da população só irá assistir ao vídeo da campanha em alusão ao Dia Mundial de luta contra a AIDS 2011 no intervalo do Jornal Nacional. Mas o vídeo já está disponível no site do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, no YouTube e abaixo.



Neste ano, por conta dos estudos aos quais me dediquei, não avaliei a campanha de Carnaval, que não gostei. Simples assim. Mas esta vale a pena dizer alguma coisa. Porque a campanha não diz a que veio. A campanha deveria ser dirigida à população de homens que fazem sexo com homens (HSH), conceito que inclui gays, bissexuais, travestis e aqueles homens que têm relações sexuais com outros homens, mas que não têm, necessariamente, uma identidade homo ou bissexual.

E, caro leitor, não estranhe, enquanto os governos insistirem em nomear as distintas populações como 'público-alvo', não sairemos do lugar. A diferença não é apenas de semântica (significado da palavra, em termos gerais), mas ideológica. Enquanto se nomearem populações vulneráveis ao HIV como público-alvo, estaremos vendendo normas, regras, atitudes, comportamentos, produtos.

Mas Saúde não é um tênis que se cobiça, um automóvel que se deseja ou uma casa na praia que se objetiva adquirir ao longo da vida. Saúde não é produto de mercado, não é comércio. Saúde é um Direito Humano e é por terem direito à saúde que se devem pensar campanhas de prevenção às populações mais vulneráveis à infecção pelo HIV.

Voltando à população a qual deveria ser dirigida a campanha, de homens que fazem sexo com homens, há mais HSH nas novelas do que no vídeo. Pode-se deduzir que dois rapazes que aparecem juntos no vídeo façam sexo com outros rapazes. Mas essa dedução é provocada pela atitude desses rapazes no vídeo que nos induz a pensar dessa forma. E o vídeo não fala de AIDS, mas de preconceito. E, se o telespectador é induzido a deduzir que este ou aquele personagem é homo, bissexual ou faça sexo com outra pessoa do mesmo sexo, isso é um juízo de valor. E quando se é induzido a fazer juízo de valor sobre alguém, esse juízo vai buscar nos contextos pessoal, social e cultural algo que enquadre determinada pessoa nos parâmetros pelos quais ela pode avaliar o outro.

Assim, enquanto uma campanha for vendida como fulano tem ou não preconceito e induzir o telespectador a avaliar a simples aparência do outro, o dinheiro público gasto não terá outra função senão a de reproduzir e sedimentar ainda mais o preconceito. Enquanto isso, a AIDS continuará a ser disseminada na população que nunca se consegue acertar o alvo.

Frases sobre AIDS

Tem sido grande a procura por frases de solidariedade ao Dia Mundial de luta contra a AIDS, celebrado desde 1988 em 1º de dezembro. Para quem busca por essas frases, aqui vai uma pequena relação:

- Viver com AIDS é possível, com o preconceito, não.
- Todo dia é Dia Mundial de luta contra a AIDS. Previna-se.
- Amor não protege do HIV, mas a camisinha, sim.
- AIDS não está no rosto, na orientação sexual ou no modo de vida. AIDS está no sangue e no sêmen. Faça o teste de HIV.
- Faça sexo seguro, use camisinha e proteja-se do HIV.
- A vida é mais forte que a AIDS.
- A AIDS não tem preconceito. Por que você tem?
- Ame uma pessoa vivendo com HIV.

Veja também: A frase e Apenas uma frase

Movimento de luta contra a AIDS distribui carta aos participantes da 14ª CNS

Hoje, os participantes que chegaram ao Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, para a 14ª Conferência Nacional de Saúde, receberão de integrantes do Movimento Social de Luta contra a AIDS, uma carta aberta, cujo teor estas SaudAids publica abaixo. 


fotos: Márcia Leão


CARTA ABERTA À POPULAÇÃO E À CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
Aids no Brasil: o acesso ao tratamento não é universal e a prevenção vive retrocessos
No Dia Mundial de Luta Contra a Aids, e da Conferência Nacional de Saúde, o Movimento Social de Luta Contra a aids, que reúne Organizações não Governamentais, Redes e Movimentos que desenvolvem ações em aids, manifesta sua preocupação com o atual cenário de enfrentamento da epidemia da aids no país. Vimos a público nos dirigir enfaticamente às autoridades de saúde e alertar a sociedade:
  • O acesso universal ao tratamento, preconizado pelo Sistema Único de Saúde - SUS e pela lei federal nº 9313/96, não é uma realidade no Brasil.
  • As campanhas de testagem são dirigidas ao público em geral e à mídia, e não atingem as populações mais vulneráveis.
  • O desabastecimento e o fracionamento de antirretrovirais ocorre sistematicamente.  
  • A prevenção à aids no Brasil não garante a igualdade e a equidade. Apesar de uma epidemia concentrada, os programas governamentais negligenciam a prevenção aos grupos mais afetados e não oferecem campanhas permanentes nem insumos suficientes.
  • O maior exemplo desse descaso ocorre neste momento com a Campanha Nacional, sendo lançada com a mudança de foco, ampliação de público, diminuição de verbas e submissão à patrulha homofóbica e religiosa que tem contaminado as decisões do Executivo e do Legislativo no Brasil.
Manifestamos nosso compromisso na defesa intransigente do SUS, exigimos a regulamentação e cumprimento da EC 29, em todas as esferas de gestão.



A epidemia da Aids é uma realidade no Brasil, todos os anos, mais de 12.000 brasileiros continuam morrendo e mais de 38.000 pessoas adoecem de Aids.
Vencer a Aids exigirá o melhor de todos nós: a começar pela ação mais firme e corajosa dos governantes em defender o SUS como política pública de saúde.

Diretor do Unaids diz que fim da AIDS está à vista


Michel Sidibé, diretor-executivo do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e AIDS (Unaids), enviou mensagem a todos os principais meios de comunicação do mundo sobre o dia de hoje, que desde 1988 é celebrado como o Dia Mundial de luta contra a AIDS, em memória das vítimas da epidemia e em celebração à vida das pessoas que vivem com o vírus que provoca a doença.

Este dia simboliza também uma chamada para que toda a sociedade, que há 30 anos convive com a AIDS, se previna do HIV, vírus que provoca a síndrome de doenças e que anualmente tira a vida de pelo menos um milhão de pessoas em todo o mundo. O milhão de pessoas mortas por ano não é exagero. Apesar de todos os medicamentos disponíveis, menos da metade das pessoas que necessitam dos antivirais para manter a vida têm acesso a eles. Um outro fator é o diagnóstico tardio, quando as pessoas chegam doentes aos serviços de saúde, muitas vezes sem muito a ser feito.

Sob o título de "o ano em que o jogo mudou", Sidibé vislumbra o fim da epidemia, afirmando que 2011 está sendo "um ano de realizações, ações coletiva, resiliência e coragem". O diretor-executivo do Unaids está certo. É preciso muita coragem para encampar a luta contra o HIV e diariamente mostrar a face a uma sociedade que, longe de solidarizar-se com as pessoas acometidas pelo HIV, apenas as discriminam.

Confira abaixo a mensagem, na íntegra.

Michel Sidibé, diretor-executivo do Unaids 
O ano em que o jogo mudou
Michel Sidibé

Nunca antes na história da AIDS chegamos a um momento em que pudemos afirmar com convicção que o fim da AIDS está à vista.
Tem sido um ano de realizações, ações coletivas, resiliência e coragem. Apesar da crise econômica que tem esticado a resposta à AIDS aos limites, milhões de vidas vêm sendo salvas, à medida que os esforços de tratamento e prevenção do HIV continuam a mostrar resultados.
Os líderes mundiais fizeram novas promessas –ousadas, tangíveis e realistas. Agora essas promessas têm que ser cumpridas em cada país, cada comunidade e para cada pessoa necessitada. 
Felizmente, os líderes estão afirmando que uma geração livre de AIDS é possível e que nenhuma criança deve nascer com HIV e nenhuma mãe deve morrer de AIDS.
O abismo entre o tratamento e a prevenção acabou. Agora tratamento é prevenção.
A divisão entre a saúde e a 
AIDS diminuiu, à medida que a AIDS sai do isolamento e entra em serviços integrados e holísticos de saúde. A resposta à AIDS abriu o caminho para um sistema de saúde centrado em pessoas, um sistema que valoriza e restabelece o respeito e a dignidade de cada indivíduo.
O caminho adiante é claro e podemos avançar em ritmo acelerado com investimentos inteligentes, aproveitando os avanços e as evidências científicas e respeitando os direitos humanos. É por isso que os líderes mundiais hão de financiar completamente a resposta à AIDS. A meta do investimento global de US$ 22 a 24 bilhões é uma responsabilidade compartilhada –de todos os países, financiadores e demais. Somente juntos podemos garantir o futuro e proporcionar benefícios maiores e de longo prazo.
Hoje, neste Dia Mundial de Luta Contra a AIDS, chamo os líderes, as comunidades, os países, as pessoas vivendo com HIV e os jovens a olhar para o futuro e trabalhar por um mundo com Zero novas infecções por HIV, Zero discriminação e Zero mortes relacionadas à AIDS.

Michel Sidibé é diretor-executivo do Unaids e secretário-geral-adjunto das Nações Unidas.