quarta-feira, 18 de março de 2009

Vaticano não sai da Idade Média

“O papa vive no século XXI?”, questionou Alain Fogue, do Movimento Camaronês pelo Acesso aos Tratamentos (MOCPAT). Durante a viagem que fez ontem do Vaticano a Camarões, Bento XVI disse que a AIDS “não pode ser derrotada com a distribuição de preservativos”, mas que “aumenta o problema”.

“Queira ou não, de cada 100 católicos, 99 usam preservativo. O papa deve entender que a carne é fraca! Será que o papa desconhecia, ao chegar a Camarões, que as pessoas soropositivas representam um número importante da população?”, acrescentou o ativista africano, segundo a Agência France Press (AFP).

Eric Chevallier, porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros da França, manifestou a “mais viva inquietação” diante das declarações papais. “Não nos cabe julgar a doutrina da Igreja, mas consideramos que tal proposta põe em risco as políticas de saúde pública e os imperativos de proteção da vida humana”, disse o francês à Rádio e Televisão Portuguesa (RTP).

Mas, por quê o ministério de Negócios Estrangeiros faria uma declaração relacionada à saúde pública? Ora, simplesmente porque, com os 900 milhões de euros nos últimos três anos de contribuição ao Fundo Global de Luta contra a Aids, a Tuberculose e a Malária, a França “é o segundo contribuinte mundial e o primeiro europeu”.

Acostumados com as declarações a respeito da procriação e da sexualidade humanas, ativistas e o governo brasileiro não se pronunciaram. Mas deveriam, pois a próxima visita do pontífice na África será em Angola, país com o qual o Brasil mantém relações de cooperação em questões relacionadas ao HIV/AIDS. Entretanto, o médico sanitarista Pedro Chequer, coordenador do UNAIDS no Brasil classificou as declarações papais de “genocidas”.

“É lamentável que após toda a luta da sociedade para o controle da aids tenhamos uma pregação genocida. Há segmentos que só reconhecem os erros após cinco séculos, só que lidamos com um bem maior que é a vida e não podemos esperar cinco séculos”, afirmou Chequer ao jornal O Estado de São Paulo.

Não é à toa que a Igreja vem, há décadas, perdendo fiéis em todo o mundo. A cada declaração papal a humanidade se depara com uma possível resposta à questão de Fogue: o Vaticano jamais sairá da Idade Média.

sábado, 7 de março de 2009

Mulher, fêmea, feminina

Esperei por uma peça publicitária do Programa Nacional de DST/Aids em parceria com a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres da Presidência da República sobre a questão da saúde sexual e dos direitos reprodutivos das mulheres. Não rolou. Ou não consegui encontrar. Enfim, não achei.

Mas trago aqui duas coisas que transformo em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. A primeira é um vídeo com trecho de especial da Rita Lee nos anos 80, no qual ela canta “Cor de rosa choque”.



O outro, é nota assinada pela Dra. Mariângela Simão, diretora do Programa Nacional de DST/Aids, que reproduzo abaixo. Vale a pena ler.

Não se esqueça das mulheres que vivem com HIV
O dia 8 de março é um momento de reflexão sobre os direitos das mulheres. Este ano, o Programa Nacional de DST e Aids traz mais um importante tema para debate: a sexualidade das brasileiras que vivem com HIV. Existe na sociedade um senso comum de que a vida sexual e reprodutiva delas acaba após o diagnóstico da doença. É como se, ao receber o resultado positivo, fosse tirado dessas mulheres o seu direito de se relacionar e de ser mãe.

O preconceito é tão forte que se reflete até entre os formadores de opinião. No ano passado, um jornalista em Brasília afirmou em rede nacional que mulheres que sabem que têm aids não deveriam engravidar. A declaração mostra total desconhecimento sobre o tema, nega os avanços científicos nessa área e viola os direitos sexuais e reprodutivos, reconhecidos nacional e internacionalmente como direito humano.

As mulheres que vivem com HIV têm sim o direito de exercer a sua sexualidade e de ter os seus bebês, assim como qualquer outra mulher. O desejo de ter filhos não pode ser um tabu e deve ser discutido nos serviços de saúde. As mulheres precisam ter acesso às informações sobre as formas mais seguras de concepção, sobre os cuidados necessários durante a gestação, o parto e a vida do bebê. Os números mostram que, quando as medidas de prevenção de transmissão vertical são adotadas corretamente, as chances de a criança nascer soropositiva são menores que 1%.

As mulheres que vivem com HIV precisam decidir livremente e com responsabilidade sobre a reprodução. Além disso, mesmo que não desejem ser mães, elas têm o direito de exercer sua sexualidade sem preconceito ou discriminação.

O governo federal garante o tratamento universal para a aids e o acesso ao preservativo nos serviços de saúde. A camisinha contribui para a qualidade de vida dessa geração que convive com o vírus por muito mais tempo do que no início da epidemia. O seu uso é uma demonstração de autocuidado e de respeito com quem se ama.

O desejo do Programa Nacional de DST e Aids é que este Dia Internacional da Mulher seja especial para as brasileiras que vivem com HIV. Que elas possam renovar sonhos, exercendo sua cidadania.

Todos têm o direito de viver plenamente: homens e mulheres, soropositivos ou não.

Mariângela Simão
Diretora do Programa Nacional de DST e Aids