terça-feira, 25 de março de 2008

Abertas inscrições para o EDUCAIDS, maior encontro brasileiro em educação preventiva

Um debate inédito sobre as relações entre cultura, preservação da natureza e prevenção — reunirá o médico Eduardo Jorge, secretário do Meio Ambiente de São Paulo, e o biólogo e ambientalista Litz Vieira, diretor do Jardim Botânico do Rio — vai marcar o lançamento das bases de uma nova política de Educação Preventiva, vinculando a prevenção das DST, Aids e outras doenças infecto-contagiosas à Educação Ambiental durante o 12° EDUCAIDS — Preservar o mundo preservando o homem!

“A idéia de preservar o homem por meio da Educação, da Cultura e da Saúde está relacionada ao aumento das doenças infecto-contagiosas causadas pelo impacto ambiental de um desenvolvimento econômico que privilegia o lucro em detrimento da sustentabilidade”, assinala Teresinha Pinto, coordenadora do evento, para justificar o tema desta edição do Encontro Nacional de Educadores na Prevenção das DST/Aids e Drogas — 12° EDUCAIDS — Preservar o mundo preservando o homem!, pioneiro no Brasil a tratar do tema com periodicidade anual. “Mas também considera que a melhoria das condições de vida das pessoas, em contato com a natureza, é capaz de reduzir as suas vulnerabilidades às DST, Aids e outras doenças”, salienta.

Já no primeiro dia do 12° EDUCAIDS, especialistas dos ministérios da Educação e da Saúde farão um balanço do programa Saúde e Prevenção nas Escolas. O crescimento da epidemia entre as jovens do sexo feminino será tema do colóquio Gênero e Cultura no Brasil, com os professores Mary Del Priori e Luiz Mott. A discussão trará um novo enfoque sobre a questão da gravidez não-planejada, envolvendo a conscientização dos homens sobre a paternidade responsável.

A programação desta 12ª edição do EDUCAIDS foi pensada visando promover a integração entre educadores e profissionais da saúde, com tópicos como “marco legal: Saúde e Educação da criança e do adolescente”, “drogas e violência: tropa da elite?”, “meio ambiente e prevenção de DST e Aids”, entre outros temas transversais e correlatos.

O EDUCAIDS
— Promovido desde 1997 pela Associação para Prevenção e Tratamento da Aids (APTA), a realização anual do EDUCAIDS proporcionou algumas conquistas para educadores preocupados com a prevenção da Aids, das DST e do uso indevido de drogas, tais como a criação da Rede Brasileira de Educação Preventiva, que promove o intercâmbio de experiências e informações sobre Educação Preventiva, desde 2000; a elaboração das diretrizes do Programa Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE), desenvolvido em conjunto pelos ministérios da Educação e da Saúde, em 2003; a inserção da Prevenção na Educação para portadores de necessidades especiais, em 2005; a inserção em rede escolar pública de 432 crianças vivendo com HIV e aids, e o Jornal do EDUCAIDS (vencedor do Prêmio ABERJE Brasil 2005) com tiragem de 4500 exemplares, distribuídos a educadores e profissionais de saúde do Brasil, Angola e de Moçambique.

O 12° EDUCAIDS será realizado entre os dias 11 e 14 de junho de 2008, no Centro de Convenções Rebouças (Av. Dr. Enéas Carvalho Aguiar, 23), em São Paulo, e deve reunir cerca de 1200 participantes.

As inscrições
podem ser efetuadas no site da APTA, onde também pode ser acessada a programação preliminar, ou pelos telefones (11) 3467-9386 / 3467-9389 (de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h), e custam R$ 180 até 30/04, ou R$ 230 após essa data. Associados Apeoesp e Sinpeem pagam R$ 180. As inscrições para trabalhos serão aceitas até 11 de maio.

Financiamento:
Programa Nacional de DST e AIDS — Ministério da Saúde / Programa Estadual de DST e AIDS da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo / Programa Municipal de DST e Aids de São Paulo / Abbott Brasil / Bristol-Myers Squibb / Merck Sharp & Dohme / Pfizer Brasil / Roche Brasil / Apoio Institucional: UNESCO, UNICEF, Ministério da Educação.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Falar sobre aids com crianças?

A resposta a esta pergunta é dada por Brian Hennessey e Radia Daoussi, defensores dos direitos humanos nos Estados Unidos. Em 2006, eles fizeram suas malas e a das filhas e foram para a XVI Conferência Internacional de Aids, realizada em Toronto, no Canadá.

Com uma câmera na mão e sem nenhuma idéia na cabeça, o casal ficou espantado com o interesse das meninas pelas obras da artista plástica brasileira Adriana Bertini, que expunha vestidos confeccionados com camisinhas tingidas, rejeitadas pelo controle de qualidade das indústrias de preservativos.

A partir do interesse das filhas, que na época tinham 4 e 6 anos, os ativistas tiveram a idéia, agora transformada em filme, de produzir um documentário no qual as meninas fazem perguntas clássicas a cientistas e ativistas da luta contra a aids. Mas, se as perguntas podem parecer comuns, tais como o que é HIV, como se pega aids, as respostas é que fazem toda a diferença, pois exigem que especialistas “traduzam” seus vocabulários a uma linguagem apropriada para crianças.

Apresentado em festivais de cinema e elogiado pela crítica especializada, “Please Talk to Kids about Aids” (Por favor fale com as crianças sobre aids) ganhou o prêmio de melhor curta documentário do Great Lakes Film Festival e o prêmio de melhor serviço público e comunitário do Everglades da África do Sul, ambos no ano passado. Com 26 minutos, o filme pode ser baixado gratuitamente no site linkado acima. Pena que ainda não tem legendas em português. Mas já é um começo.

terça-feira, 18 de março de 2008

Apenas uma frase?

“Quando eu pensar que aprendi a viver, terei aprendido a morrer.”
Leonardo da Vinci (1452 – 1519)


Atualizado em 26/11/2009
A frase:
Viver com Aids é possível.
Com o preconceito não.

Slogan 2009 da campanha do Ministério da Saúde em alusão ao Dia Mundial de Luta contra a Aids, comemorado desde 1988 no dia 1º de Dezembro.


Veja também: Frases sobre AIDS e A frase.

C&S e o SUS

“Comunicação e Saúde” (C&S) é um dos livros que minha mestra Inesita Araújo escreveu em parceria com a minha também mestra Janine Cardoso. Na visão das autoras, o campo da C&S tem como “ponto inicial a crítica produzida por profissionais de serviços de saúde e instituições de ensino e pesquisa”.

Para Araújo e Cardoso, o campo da C&S engloba, além da comunicação e da saúde, a ciência e tecnologia, políticas públicas, informação, educação popular e movimentos sociais. Como elas escrevem, o livro não parte de “uma perspectiva que vê a comunicação como um conjunto de instrumentos a serviço dos objetivos da saúde”, mas de um ponto de vista bourdiano no qual “os limites dos campos são indefinidos e porosos, porque são demarcados pelos efeitos que produzem em conjunturas específicas”.

Neste pequeno livro, além da definição do campo da C&S, as autoras trazem reflexões de como a Comunicação interage com os princípios doutrinários (universalidade, eqüidade e integralidade) e organizativos (descentralização, hierarquização e participação) do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo afirmam as autoras, não podemos “tratar a comunicação no campo da saúde coletiva como se fosse numa empresa comercial”. Ou seja, não podemos “vender” a C&S como se fosse uma nova marca de cerveja ou de um novo modelo de automóvel.

A C&S parte do princípio que não podemos dissociar a comunicação da noção de direito, pois é dirigida a cidadãos. Nesta perspectiva, “objetiva o aperfeiçoamento de um sistema público de saúde em todas as suas dimensões e a participação efetiva das pessoas na construção dessa possibilidade”.

Publicado pela Editora Fiocruz para a coleção Temas em Saúde, “Comunicação e Saúde” custa apenas R$ 15 e pode ser encontrado nas livrarias ou pela Internet.

sábado, 15 de março de 2008

Orkut exclui comunidade intolerante

A comunidade “nojo de quem tem AIDS”, hospedada pelo Orkut, foi retirada do ar, segundo informações da Agência de Notícias da Aids (ANA). Com muito mais visibilidade que estas Saudaids, a ANA fez a denúncia na tarde de quarta-feira. A reportagem falou com a ONG Safer Net, especializada em crimes virtuais, ouviu o Grupo de Incentivo à Vida – GIV, que informou que denunciaria a comunidade ao Ministério Público Federal e pediu uma posição do Google por meio de sua assessoria de imprensa.

Na quinta-feira, repercutiu a informação entre ativistas da luta contra a aids, que atribuíram ao provedor a responsabilidade por manter a comunidade. Sem pronunciamento algum, ontem o Google tirou a comunidade do ar. Infelizmente as outras comunidades relacionadas aqui e na ANA, não tiveram a mesma resolutividade.

E, apesar de a comunidade “João Hélio arrastou pouco” agora trazer a observação “Não há qualquer intenção em ofender a memória do garoto, essa comunidade é apenas a constatação de um fato: 7km é uma distância modesta”, a explicação não convence. É modesto o trecho que o menino foi arrastado? Quanto seria o “razoável” para sensibilizar tamanha crueldade ao banalizar a tragédia? Pena.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Orkut: paraíso da intolerância

Tenho uma amiga que é atriz. Depois de muitos anos no teatro, fez uma minissérie na TV Globo. Ligada ao grupo de teatro do Ornitorrinco, mantém, após dois filhos, um corpo escultural. Fez espetáculos nos quais ficava nua. Um dia, encontrou seu perfil no orkut bloqueado. Não adiantou dizer ao Google que as fotos que mantinha em sua página eram artísticas, de espetáculos teatrais. Em repúdio, ela saiu do orkut.

Faz uma ou duas semanas, pipocou na mídia o horror a uma comunidade chamada “Eles têm aids e nem te contam nada” ou alguma coisa parecida, que delatava pessoas que supostamente estariam infectadas pelo vírus da aids. Agora, um conhecido denuncia uma página “gentilmente oferecida” por uma tal de Sociedade Alternativa —coitado do Raul!— chamada “NOJO de quem tem AIDS!!!”, com mais de mil integrantes, todos expostos, que devem achar o máximo fazer parte dessa comunidade.

Relacionadas a essa, comunidades intituladas “João Hélio arrastou POUCO”, “sim a POLUIÇÃO no Brasil!”, “Maldito John Lennon, foi tarde!” e “Quero ajudar a pregar Jesus”. A comunidade do “nojo” é dirigida a “quem quer dar dignidade à (sic) esses seres que tanto sofrem dando-lhes um fim digno e com menos sofrimento!” e tem como premissa a seguinte máxima: “se cachorros com leishmaniose são sacrificados devido ao risco de contágio porque (sic) aidéticos também não são?”

Além de sermos chamados de “aidéticos”, termo que carrega todo o peso do estigma, do preconceito e da discriminação lançada pelo conceito de “grupo de risco”, o país deveria sacrificar-nos como a cachorros com leishmaniose.

Não deveria citar isso aqui. Afinal, a máxima “falem mal, mas falem” gera propaganda, visibilidade. Mas não dá pra agüentar. Dias antes da comunidade “Eles têm aids...” ser divulgada na mídia por sofrer investigação policial, um senhor publicou em seu blog um artigo dizendo alguma coisa como “o Estado brasileiro dá remédio pra esses aidéticos disseminarem o vírus da Aids a rodo”.

Recentemente, a comunidade científica norte-americana pediu desculpas à comunidade gay por divulgar que um vírus —ou bactéria— infinitamente mais letal que o HIV estaria infectando gays em Nova York e San Francisco. Depois, a história do bareback —que não é novidade—, o artigo desse senhor, essas comunidades. Sei não, mas está parecendo a cena da novela “Duas Caras”, na qual fundamentalistas lincham o triângulo formado por Bernardinho, Dália e Heraldo em nome de Deus.

Em breve, estaremos lastimando que em pleno século 21 tenhamos de ficar trancados em casa com medo de sermos atacados por fundamentalistas arregimentados por um site de relacionamentos.

domingo, 9 de março de 2008

45:11:29

Hoje foi o último dia. Não precisa soltar fogos, pois não vou abandonar o blog. Hoje foi o último dia do resto dos meus dias. Meu último dia com 45 anos.
Faz 20 anos. Foi em 1988 que recebi meu primeiro teste posithivo (não exatamente na véspera do meu aniversário, que ninguém merece). O resultado não foi surpresa nenhuma, pois conhecia meus antecedentes.
Coisa chata falar de morte na véspera de aniversário? Estou falando de vida. Pra quem recebeu o diagnóstico numa época em que aquele resultado significava uma sentença de morte, só tenho a comemorar. Acho que rasgaram minha sentença. Como eu rasguei aquele resultado, só posso provar que tenho HIV a partir de 1992. Se bem que o ideal seria que eu tivesse cópia do meu prontuário de 1984.
Vantagem nenhuma. Mas, como diz uma amiga que mora no meu coração, eu vivi e vivo a história dessa epidemia. E não sou um exemplo de paciente (não gosto dessa palavra). Talvez por não ser esse exemplo, tenha de ir ao cardiologista fazer alguns exames; talvez por isso meu colesterol esteja tão alto. Mas, se tem uma coisa com a qual tenho disciplina é com minha medicação. Tanto, que tomo apenas quatro comprimidos por dia. Em dois meses (janeiro e fevereiro) tomei 56 das 60 doses. Tudo na mesma sagrada hora, às nove da noite. Quase 94% de adesão. Ao contrário de muitos, adoro o barato do efavirenz. O problema é que tenho vida sedentária, fumo, e não faço exercícios.
Neste ano também completo 16 anos que comecei a tomar, em 1992, os antiretrovirais. Estava na faculdade, no meio de uma prova e uma febre súbita fez com que eu entregasse a folha em branco. Passei a noite no vaso sanitário. Foi quando tive o diagnóstico que ainda está no meu prontuário. E comecei a tomar AZT.
Naquela época, o medicamento não era distribuído na rede pública e a empresa que trabalhava pagou o medicamento por um bom tempo. Foram solidários comigo num primeiro momento, mas não perderam a oportunidade de se verem livres de mim.
Não foram nada fáceis estes 45:11:29. Mas foram alegres, tristes, cheios de realizações e de frustrações, de expectativas e de tentativas. Enfim, foram 45 anos, 11 meses e 29 dias.

(na foto, bolo de confeiteira brasileira radicada na Espanha: artesinlimites.es)

quarta-feira, 5 de março de 2008

Bareback precisa resposta contundente

Pode ser excitante ver uma cena de sexo explícito num filme pornô gay no qual os atores não usam camisinha. Mas, gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros (GLBT) precisam responder ao que a indústria do bareback vem promovendo no incentivo a práticas de sexo desprotegido. E a reação tem de ser contundente.
As notícias divulgadas hoje pela BBC trazem à tona uma prática que já têm adeptos no Brasil. E vem a reboque das informações difundidas na semana passada, na qual jovens estariam ingerindo antiretrovirais (ARV) antes (Época) e depois (Revista da Semana) de baladas sexuais desprotegidas.

Na Internet, centenas de sites gays distribuem gratuitamente trechos de cenas com atores fazendo sexo sem camisinha. As íntegras das cenas e até os filmes inteiros estão disponíveis on demand.

A prática do bareback, que literalmente significa cavalgar sem sela, tornou-se sinônimo de fazer sexo sem camisinha a partir da segunda metade da década de 1990. Surgida entre a comunidade gay norte-americana que não viu as vítimas da aids pré-coquetel de
ARV, virou ideologia de rebeldes sem causa.
No Brasil, o Ministério da Saúde garante que pessoas que tiveram relações desprotegidas tenham acesso aos
ARV. Mas precisa prescrição e acompanhamento médico. Essa diretriz não pode e não deve ser banalizada assim, pela irresponsabilidade de alguns poucos, sejam homo ou heterossexuais.

Posição equivocada

“A posição da Igreja Católica (a maior do Brasil, mas também apenas uma das igrejas) historicamente já mostrou-se muitas vezes equivocada, como por exemplo no caso das encíclicas em relação à proibição do uso da camisinha, a principal defesa mundial contra a Aids.”
Frase do músico Marcelo Yuka, em artigo sobre a questão das pesquisas com células-tronco embrionárias, em O Globo Online.

Grupo de risco, não!

No hospital, a mãe pergunta pelo diagnóstico do filho, recém-internado. O médico diz que o estado de saúde do paciente é grave. Ela responde que sabe que o filho é “viciado”, que “pertence ao grupo de risco”, que o médico pode falar. “Ele tem aids, não é doutor?” Sem dizer à mãe que ela precisava reavaliar os próprios conceitos, o médico responde que o rapaz tem dengue hemorrágica. A cena não aconteceu nos rincões do Brasil, mas na telinha da TV Globo. Mais precisamente na noite desta terça-feira, em “Duas Caras”, programa com altos índices de audiência.
É espantoso que um autor como Aguinaldo Silva ainda coloque em seus textos referências alusivas a conceitos já superados pela ciência. É por causa dessa história de “grupo de risco” que as pessoas têm se infectado com o HIV. A aids não é uma doença apenas de homossexuais, prostitutas, usuários de drogas e hemofílicos. A aids é uma doença de quem faz sexo sem camisinha ou que compartilha agulhas e seringas contaminadas.
Recentemente, em um seminário, parte da equipe de comunicação do Ministério da Saúde elogiou a TV Globo por inserir no “Big Brother Brasil”, tarefa didática sobre a prevenção da dengue. Agora, devia dar um puxão de orelha em toda a equipe da novela. Será que nem a Marília Gabriela tem essa informação? Tudo bem que ninguém precisa saber que os usuários de drogas foram o grupo que mais adotou as estratégias de prevenção à infecção pelo HIV. Até o “comportamento de risco”, conceito que substituiu o de “grupo de risco” já foi substituído.
Por isso, Aguinaldo Silva, da próxima vez, “grupo de risco”, não!