quinta-feira, 13 de março de 2008

Orkut: paraíso da intolerância

Tenho uma amiga que é atriz. Depois de muitos anos no teatro, fez uma minissérie na TV Globo. Ligada ao grupo de teatro do Ornitorrinco, mantém, após dois filhos, um corpo escultural. Fez espetáculos nos quais ficava nua. Um dia, encontrou seu perfil no orkut bloqueado. Não adiantou dizer ao Google que as fotos que mantinha em sua página eram artísticas, de espetáculos teatrais. Em repúdio, ela saiu do orkut.

Faz uma ou duas semanas, pipocou na mídia o horror a uma comunidade chamada “Eles têm aids e nem te contam nada” ou alguma coisa parecida, que delatava pessoas que supostamente estariam infectadas pelo vírus da aids. Agora, um conhecido denuncia uma página “gentilmente oferecida” por uma tal de Sociedade Alternativa —coitado do Raul!— chamada “NOJO de quem tem AIDS!!!”, com mais de mil integrantes, todos expostos, que devem achar o máximo fazer parte dessa comunidade.

Relacionadas a essa, comunidades intituladas “João Hélio arrastou POUCO”, “sim a POLUIÇÃO no Brasil!”, “Maldito John Lennon, foi tarde!” e “Quero ajudar a pregar Jesus”. A comunidade do “nojo” é dirigida a “quem quer dar dignidade à (sic) esses seres que tanto sofrem dando-lhes um fim digno e com menos sofrimento!” e tem como premissa a seguinte máxima: “se cachorros com leishmaniose são sacrificados devido ao risco de contágio porque (sic) aidéticos também não são?”

Além de sermos chamados de “aidéticos”, termo que carrega todo o peso do estigma, do preconceito e da discriminação lançada pelo conceito de “grupo de risco”, o país deveria sacrificar-nos como a cachorros com leishmaniose.

Não deveria citar isso aqui. Afinal, a máxima “falem mal, mas falem” gera propaganda, visibilidade. Mas não dá pra agüentar. Dias antes da comunidade “Eles têm aids...” ser divulgada na mídia por sofrer investigação policial, um senhor publicou em seu blog um artigo dizendo alguma coisa como “o Estado brasileiro dá remédio pra esses aidéticos disseminarem o vírus da Aids a rodo”.

Recentemente, a comunidade científica norte-americana pediu desculpas à comunidade gay por divulgar que um vírus —ou bactéria— infinitamente mais letal que o HIV estaria infectando gays em Nova York e San Francisco. Depois, a história do bareback —que não é novidade—, o artigo desse senhor, essas comunidades. Sei não, mas está parecendo a cena da novela “Duas Caras”, na qual fundamentalistas lincham o triângulo formado por Bernardinho, Dália e Heraldo em nome de Deus.

Em breve, estaremos lastimando que em pleno século 21 tenhamos de ficar trancados em casa com medo de sermos atacados por fundamentalistas arregimentados por um site de relacionamentos.

4 comentários:

Mestra Eterna disse...

Olá meu querido!

indignada fiquei eu ao ler esses absurdos. realmente alguns universos(pessoas)vivem aqui nessa coordenada como se tivessem em férias e nem percebem que toda esse ódio e intolerância são sementes que jogam em volta de si mesmos e que um dia irão dar seus frutos amargos.
Para nós que qualificamos a vida com a amor precisamos exercitar ainda mais a compaixão por esses desalinhados e emitir a luz que nos corresponde.

Um beijo no coração!

Anônimo disse...

Lástimável. É assim que a gente percebe como existem pessoas ignorantes no mundo. Se vc fizer uma pequena busca no orkut, vai ver quanta barbaridade tem lá.

Abraços
Clarissa
www.hsw.com.br

rdtgreterr disse...

É lamentável mesmo. O Orkut cai como uma luva para que essas pessoas se reúnam e alimentem essas idéias errads. Felizmente ainda existem pessoas como você que denunciam publicamente essas barbaridades.
Já pensou em fazer uma denúncia para o Ministério Público Federal? Tenho acompanhado de perto o trabalho deles sobre crimes cibernéticos e sei que eles procuram realmente investigar este tipo de coisa, elas não ficam engavetadas. Existe um formulário para isso na página deles (www.mpf.gov.br).

Anônimo disse...

Não vejo nada de errado na comunidade,afinal, observando pelo espectro auto-preservacionista ela encontra justificativas!O único ponto negativo é o nome, demasiadamente agressivo, mas compreendo que tinha como objetivo somente chamar atenção para um pensamento que não converge para o senso commum.

Abraços Paulão!