No hospital, a mãe pergunta pelo diagnóstico do filho, recém-internado. O médico diz que o estado de saúde do paciente é grave. Ela responde que sabe que o filho é “viciado”, que “pertence ao grupo de risco”, que o médico pode falar. “Ele tem aids, não é doutor?” Sem dizer à mãe que ela precisava reavaliar os próprios conceitos, o médico responde que o rapaz tem dengue hemorrágica. A cena não aconteceu nos rincões do Brasil, mas na telinha da TV Globo. Mais precisamente na noite desta terça-feira, em “Duas Caras”, programa com altos índices de audiência.
É espantoso que um autor como Aguinaldo Silva ainda coloque em seus textos referências alusivas a conceitos já superados pela ciência. É por causa dessa história de “grupo de risco” que as pessoas têm se infectado com o HIV. A aids não é uma doença apenas de homossexuais, prostitutas, usuários de drogas e hemofílicos. A aids é uma doença de quem faz sexo sem camisinha ou que compartilha agulhas e seringas contaminadas.
Recentemente, em um seminário, parte da equipe de comunicação do Ministério da Saúde elogiou a TV Globo por inserir no “Big Brother Brasil”, tarefa didática sobre a prevenção da dengue. Agora, devia dar um puxão de orelha em toda a equipe da novela. Será que nem a Marília Gabriela tem essa informação? Tudo bem que ninguém precisa saber que os usuários de drogas foram o grupo que mais adotou as estratégias de prevenção à infecção pelo HIV. Até o “comportamento de risco”, conceito que substituiu o de “grupo de risco” já foi substituído.
Por isso, Aguinaldo Silva, da próxima vez, “grupo de risco”, não!
3 comentários:
DISCORDO...
Caro, Paulo,
As vezes nos precipitamos ao considerar os outros ignorantes...O Conceito de Grupo de Risco não exclui os que não estão nele de contrair a doença (no glaucoma pessoas negras e diabéticas são grupos de risco, mas brancos também contraem muito:http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/10837 ). Portanto, Grupo de Risco segue sendo correto (me parece que foi abolido também, devido a uma atitude politicamente correta). Por exemplo, os transsexuais paulistanos contraem muito mais HIV do que os heterossexuais ou homossexuais monogâmicos, pois têm mais parceiros e estão expostos ao preconceito e situações de risco, constantemente (sexo anal receptivo, violência sexual etc.). Entretanto, heterossexuais monogâmicos não estão isentos, podem contrair também, facilmente.Uma coisa não exclui a outra.A multiplicidade de grupos de risco, criou o conceito de comportamento de risco(http://www.sbcp.org.br/revista/nbr232/P128_129.htm), mas o comportamento de risco está nos grupos de risco e para entrar nele basta praticar sexo sem preservativo.
Ainda, em relação aos viciados em drogas injetáveis, você, melhor do que eu, deve saber que a probabilidade de se contrair HIV por meio delas é de 67/10000.Com transfusão de sangue, 9000/10000. Sexo anal receptivo 50/10000. Assim sendo, os riscos são variáveis, sendo que drogas injetáveis e transfusão lideram a lista de probabilidades, e o "puxão de orelhas" é uma medida ditatorial, ao meu ver. Acredito que você levou "ao pé da letra".
Um outro questionamento é a redução de parceiros, visto que muitos estudos mostram, que associada ao uso do preservativo, é bastante funcional. Mas sozinha não funciona, tem que ter preservativo. É preciso não ser maniqueísta nessas horas. Porque algo não está certo, não signfica que esteja completamente errado.
atenciosamente,
bebeto_maya
HIV, embora possa ser contraído por qualquer um, não está homogeneamente distribuído pela população, havendo perfis com maior probabilidade de estarem contaminados, dentre os quais, usuários de drogas injetáveis e homossexuais masculinos. Essa maor probabilidade não é meramente um acaso estatístico, mas fruto de um processo de retro-alimentação de práticas mais suscetíveis a contaminação pelo vírus. Esses são designados "grupos de risco" devido a esses aspectos epidemiológicos.
É um infortúnio que algumas pessoas entendam isso como que, estando fora desses grupos, significaria estar livre de risco, mas também não é benéfica a promoção da idéia de que não há fatores de risco.
Prezados,
O que escrevi em 2008 foi uma pequena análise de como se difunde, pelos meios de comunicação, de conceitos e representações que mais confundem do que esclarecem.
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