domingo, 9 de março de 2008

45:11:29

Hoje foi o último dia. Não precisa soltar fogos, pois não vou abandonar o blog. Hoje foi o último dia do resto dos meus dias. Meu último dia com 45 anos.
Faz 20 anos. Foi em 1988 que recebi meu primeiro teste posithivo (não exatamente na véspera do meu aniversário, que ninguém merece). O resultado não foi surpresa nenhuma, pois conhecia meus antecedentes.
Coisa chata falar de morte na véspera de aniversário? Estou falando de vida. Pra quem recebeu o diagnóstico numa época em que aquele resultado significava uma sentença de morte, só tenho a comemorar. Acho que rasgaram minha sentença. Como eu rasguei aquele resultado, só posso provar que tenho HIV a partir de 1992. Se bem que o ideal seria que eu tivesse cópia do meu prontuário de 1984.
Vantagem nenhuma. Mas, como diz uma amiga que mora no meu coração, eu vivi e vivo a história dessa epidemia. E não sou um exemplo de paciente (não gosto dessa palavra). Talvez por não ser esse exemplo, tenha de ir ao cardiologista fazer alguns exames; talvez por isso meu colesterol esteja tão alto. Mas, se tem uma coisa com a qual tenho disciplina é com minha medicação. Tanto, que tomo apenas quatro comprimidos por dia. Em dois meses (janeiro e fevereiro) tomei 56 das 60 doses. Tudo na mesma sagrada hora, às nove da noite. Quase 94% de adesão. Ao contrário de muitos, adoro o barato do efavirenz. O problema é que tenho vida sedentária, fumo, e não faço exercícios.
Neste ano também completo 16 anos que comecei a tomar, em 1992, os antiretrovirais. Estava na faculdade, no meio de uma prova e uma febre súbita fez com que eu entregasse a folha em branco. Passei a noite no vaso sanitário. Foi quando tive o diagnóstico que ainda está no meu prontuário. E comecei a tomar AZT.
Naquela época, o medicamento não era distribuído na rede pública e a empresa que trabalhava pagou o medicamento por um bom tempo. Foram solidários comigo num primeiro momento, mas não perderam a oportunidade de se verem livres de mim.
Não foram nada fáceis estes 45:11:29. Mas foram alegres, tristes, cheios de realizações e de frustrações, de expectativas e de tentativas. Enfim, foram 45 anos, 11 meses e 29 dias.

(na foto, bolo de confeiteira brasileira radicada na Espanha: artesinlimites.es)

2 comentários:

Amanda Simões disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Amanda Simões disse...

Como essa vida aqui me leva em sua direção...
Estava agora, nesse exato momento, fazendo uma pesquisa no Google sobre a AIDS, na tentativa de concluir algumas idéias que faltavam no meu projeto de pesquisa. E olha aonde fui cair - dentro do blog do Paulo, claro!!! E que surpresa boa foi essa. Passei o olho rapidamente em tudo, mas quando vi a imagem de um lindo bolo, pensei: aposto que o Paulo deve estar falando do seu aniversário, e como eu não fui, fiquei curiosa pra saber o que ele tinha aprontado!
Sim, ele tinha aprontado! Mais uma vez ele conseguiu mexer com o meu coração e com a minha mente. Ele me emociona e me impulsiona, fazendo com que cada vez mais eu siga adiante e cumpra a missão que a mim, foi dada por Deus.
Louvo a Deus por ter conhecido essa pessoa tão maravilhosa, que passou a ser um ícone na minha vida e que hoje, eu chamo de amigo!