quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Comunicação gerando dividendos

Em alusão ao Dia Internacional da Mulher, o Ministério da Saúde divulgou hoje novas peças para rádio e Internet. Em depoimentos e spots, personalidades como as cantoras Sandra de Sá e Negra Li, os artistas Nando Cunha e Isabel Fillardis, o atleta Robson Caetano, falam sobre uso do preservativo, realização do teste de HIV e de sífilis na gestação, violência contra a mulher, camisinha feminina e gravidez não-planejada. Os áudios convidam as mulheres a protagonizarem o enfrentamento da epidemia de HIV e aids no Brasil. Os artistas não receberam cachê e a iniciativa dá continuidade às campanhas do Dia Mundial 2007 e do carnaval 2008, cujo slogan foi a pergunta “qual a sua atitude na luta contra a aids?”.
*
Gwyneth Paltrow gravou campanha para o escritório do UNICEF no Reino Unido para arrecadar fundos para a aids. O filme é uma dramatização de um poema do premiado escritor Simon Armitage, ainda inédito em português, narrado pela atriz. É peça de sensibilização para a campanha Born Free from HIV, algo como nascer livre do HIV. Segundo o UNICEF, a cada minuto nasce uma criança com HIV no mundo.
*
E a “Annual Elton John AIDS Foundation Academy Awards”, festa pós-Oscar de Elton John, arrecadou nada menos que US$ 5,1 milhões.

Reconhecimento que incentiva

Estava fuçando no meu contador de onde vêm os leitores do blog e encontrei links do blog do portal qualsuaatitude.com.br. Fui lá conferir e encontro a primeira resenha sobre este Saudaids. Publicado hoje sob o título de “Outro ponto de vista”, o texto da Larissa conseguiu captar a espinha dorsal deste blog. Mais do que isso, a energia que permeia a intenção. Foi muito bom ler que o blog “se destaca nas produções sobre a Aids”.
Não foi sem receio que comecei a contar minha experiência pessoal misturada à comunicação sobre aids. Principalmente para interlocutores que não sabemos quem são, que não olhamos em seus olhos; que sentidos atribuirão às nossas palavras? Confesso que não é fácil, pessoalmente, mexer com emoções. Os comentários, porém, são gratificantes.
A responsabilidade também é enorme. E gostaria de poder me dedicar mais a esta iniciativa, que começou modesta e, modestamente, já ganha elogios.
Preciso agradecer também ao Tiago+, quem primeiro colocou o link do Saudaids no blog dele. E a tod@s @s leitor@s que têm passado por aqui. Obrigado pelo incentivo.

Câmara aprova R$ 30 mi para campanhas de saúde

A Câmara dos Deputados aprovou ontem a Medida Provisória (MP) n° 400/2007, que provisiona R$ 30 milhões para o Ministério da Saúde produzir campanhas de massa de prevenção à aids e à dengue. A aprovação da MP 400 poderia ser motivo de comemoração, não fossem alguns detalhes.
As campanhas já foram produzidas. No caso da aids, foram as alusivas ao Dia Mundial de luta contra a Aids 2007 e a do Carnaval 2008. Outro, é que a MP 400 também aloca R$ 20 milhões para a formação do capital da Empresa Brasileira de Comunicação, a TV Brasil. Finalmente, a MP é do final de outubro.
No frigir dos ovos, a questão nem é se as campanhas foram produzidas ou não, mas como o governo brasileiro lida com os problemas de saúde pública.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Um pouco do meu HIV (2)

Até meados da década de 1990, a infecção pelo HIV era uma rápida sentença de morte. As pessoas ficavam doentes e meses depois estavam mortas. A aids ceifava vidas como um jardineiro a aparar grama no jardim.
Naquela semana de 1984 fui umas três vezes ao serviço público de saúde que recebia pessoas do então denominado “grupo de risco” daquela doença ainda pouco conhecida chamada “peste gay”. Ao voltar pra casa de uma dessas visitas, disse a uma das minhas primas que ela tinha pouco tempo de contato comigo. Choramos muito juntos. Mas, até hoje damos algumas boas risadas quando lembramos do nosso desespero conjunto.
Naqueles anos, quando ainda não tínhamos informação suficiente sobre a doença, o estigma era muito, mas muito forte. Um dos pontos de concentração gay de São Paulo, na rua Marquês de Itu, que literalmente fervia nas noites dos finais de semana, foi simplesmente esvaziado. Não pela polícia do delegado Richetti, que expulsou homossexuais do Largo do Arouche no início mais remoto dos anos 1980, mas pelo “câncer rosa”, como também era designada a aids.
Algumas pessoas, eu inclusive, achavam que a aids era fabricada pela mídia e pelas forças conservadoras norte-americanas para, ao estigmatizar a homossexualidade, estancar um pouco da explosão sexual experimentada naqueles loucos anos. Mas não era. Nunca foi.
Devidamente trancafiados em suas casas pela falta de informação, de medicamentos e principalmente, de certezas, os próprios homossexuais inventaram uma espécie de diagnóstico para identificar as pessoas portadoras do HIV: magros morreriam, gordos viveriam. Obviamente que, com o passar dos anos, esse diagnóstico foi cientificamente refutado.
Naqueles primeiros anos, de volta a São Paulo, era muito engraçado ver a expressão assustada das pessoas ao me encontrar. Gente que sumia do mapa, como eu, era tida como morta. Uma vez, encontrei a camareira do HS que confidenciou ter rezado uma missa pela minha alma, pois a falta de notícias era o sinal irrefutável da minha morte.
Meses depois de ter colhido sangue para o exame francês que nunca tive o resultado, abandonei o serviço. Meu raciocínio dizia que, se eu iria morrer logo, deveria aproveitar a vida. Como de boemia eu estava legal, resolvi voltar a estudar.
E, novamente, vou deixar você esperando pelos próximos capítulos desse dramalhão. Até.

Alívio imediato

A Folha de S.Paulo informa que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o teste de detecção do HIV por via oral. O teste não será vendido em farmácias. Ufa, ainda bem que temos, apesar dos pesares, pessoas sérias no governo brasileiro.
Já pensou, car@ leitor@, o que seria se o teste fosse comercializado publicamente? Não gosto nada dessa pergunta que passou pela minha massinha encefálica pois, ainda que pudesse resultar em alívio imediato —cerca de 20 minutos para um resultado com 99% de confiabilidade— sua comercialização talvez provocasse algum pânico nas chancelas positivas.
E, por mais que o Ministério da Saúde informe que irá avaliar a inclusão ou não do exame no serviço público, acredito que o teste será incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) apenas para casos de extrema urgência. Isso sim, um alívio.

Artista faz campanha, sim, informa publicitário

Recebi um e-mail de Daniel Souza, da [X]Brasil. Na mensagem, o publicitário refuta informação sobre a participação de artistas brasileiros em campanhas de saúde pública.
“Gostaria de te contradizer —pelo menos no que diz respeito à [X]Brasil— em relação à participação dos artistas em campanhas. Acho que já fizemos pelo menos 40 campanhas, sobre os mais variados assuntos, e todos os artistas/atletas/formadores de opinião que chamamos toparam. Pessoas como: Chico Buarque, Ivete Sangalo, Gabriel, O pensador, Carlinhos de Jesus, Tony Ramos, Camila Pitanga, Glória Pires, Lenine, Ney Matogrosso, Orlando Moraes, Zagallo, Parreira, Ronaldo, Kaká, Dado Dolabella, Sandy & Junior, Elke Maravilha, Isabel Fillardis, Maitê Proença, João Bosco, Dráuzio Varella, entre outros, que não estou lembrando agora de cabeça. Muitas vezes, acho que o que falta é um pouco de cara de pau para simplesmente ir lá e pedir... Cara de pau para isso, nunca me faltou...”
Não quero polemizar, mas o que escrevi foi que falta engajamento, que é bem diferente de fazer campanha pontual. Fica o registro, tanto meu quanto do Daniel.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Benefício do constrangimento

O Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), como preconiza a Lei Orgânica da Assistência Social N° 8.742/93, revisa a cada dois anos os benefícios concedidos por invalidez. Apesar da lei estar em vigor desde 1993, a revisão jamais foi realizada. A discussão parece relevante: o que fazer com as pessoas vivendo com HIV e aids (PVHA) que recebem benefícios previdenciários no Brasil?
Relatório divulgado na semana passada pelo Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde revela que no ano de 2006 foram pagos 42,1 mil auxílios previdenciários às PVHA no Brasil, “representando uma relação de 7,4 benefícios para cada 100 pessoas em tratamento com terapia ARV” no ano. Os números apontam para uma tendência de redução de 18,4%. (Confira o relatório aqui).
Porém, se comparados aos números absolutos de beneficiários da previdência, os benefícios concedidos às PVHA são tão ínfimos que não mereceriam o constrangimento pelo qual passam esses seres humanos nas perícias médicas realizadas por peritos que nem sequer olham para as pessoas. As PVHA representam apenas 0,9% do total de benefícios previdenciários.
“Em relação aos gastos, observamos que benefícios pagos em decorrência da aids, no valor de R$ 26,6 milhões anualmente, representam 1,1% dos dispêndios totais com doença da Previdência no Brasil. A aposentadoria é o benefício que mais contribui para a elevação desses gastos, seguido do auxílio doença. Os gastos com amparo social são aqueles que menos contribuem para os dispêndios associados a aids”, informa o relatório.
Em entrevista ao site da RNP+, a advogada Áurea Abbade, pioneira na defesa dos direitos trabalhistas das PVHA, fundadora da primeira ONG a trabalhar com a questão da aids na América Latina, afirma claramente que assim como no começo da epidemia, “os portadores continuam sendo discriminados, demitidos, sem direitos, havendo vários processos em trâmite na Justiça do Trabalho”.
Relançada no final de 2007 na Câmara dos Deputados, espera-se que a Comissão Parlamentar sobre HIV e aids do Congresso Nacional seja sensibilizada com a questão e promova lei que incentive as empresas, inclusive com renúncia fiscal, a contratarem PVHA. Simplesmente porque a gente não quer só remédio, a gente quer trabalho, o pão de cada dia e um pouco de circo de vez em quando.