A maioria da população só irá assistir ao vídeo da campanha em alusão ao Dia Mundial de luta contra a AIDS 2011 no intervalo do Jornal Nacional. Mas o vídeo já está disponível no site do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, no YouTube e abaixo.
Neste ano, por conta dos estudos aos quais me dediquei, não avaliei a campanha de Carnaval, que não gostei. Simples assim. Mas esta vale a pena dizer alguma coisa. Porque a campanha não diz a que veio. A campanha deveria ser dirigida à população de homens que fazem sexo com homens (HSH), conceito que inclui gays, bissexuais, travestis e aqueles homens que têm relações sexuais com outros homens, mas que não têm, necessariamente, uma identidade homo ou bissexual.
E, caro leitor, não estranhe, enquanto os governos insistirem em nomear as distintas populações como 'público-alvo', não sairemos do lugar. A diferença não é apenas de semântica (significado da palavra, em termos gerais), mas ideológica. Enquanto se nomearem populações vulneráveis ao HIV como público-alvo, estaremos vendendo normas, regras, atitudes, comportamentos, produtos.
Mas Saúde não é um tênis que se cobiça, um automóvel que se deseja ou uma casa na praia que se objetiva adquirir ao longo da vida. Saúde não é produto de mercado, não é comércio. Saúde é um Direito Humano e é por terem direito à saúde que se devem pensar campanhas de prevenção às populações mais vulneráveis à infecção pelo HIV.
Voltando à população a qual deveria ser dirigida a campanha, de homens que fazem sexo com homens, há mais HSH nas novelas do que no vídeo. Pode-se deduzir que dois rapazes que aparecem juntos no vídeo façam sexo com outros rapazes. Mas essa dedução é provocada pela atitude desses rapazes no vídeo que nos induz a pensar dessa forma. E o vídeo não fala de AIDS, mas de preconceito. E, se o telespectador é induzido a deduzir que este ou aquele personagem é homo, bissexual ou faça sexo com outra pessoa do mesmo sexo, isso é um juízo de valor. E quando se é induzido a fazer juízo de valor sobre alguém, esse juízo vai buscar nos contextos pessoal, social e cultural algo que enquadre determinada pessoa nos parâmetros pelos quais ela pode avaliar o outro.
Assim, enquanto uma campanha for vendida como fulano tem ou não preconceito e induzir o telespectador a avaliar a simples aparência do outro, o dinheiro público gasto não terá outra função senão a de reproduzir e sedimentar ainda mais o preconceito. Enquanto isso, a AIDS continuará a ser disseminada na população que nunca se consegue acertar o alvo.
3 comentários:
Falou e disse! E eu aqui pensando o que escrever no Mix, acho que vou só te linkar... hehehe... Um forte abraço!
Escreve, sim, querido. É importante que se tenham muitas opiniões para que a avaliação da campanha realmente tenha o recall que merece.
Grande abraço!
De fato, como escreve Paulo, trata-se é de uma campanha contra o preconceito (ou de uma tentativa mal-sucedida disso), tão-somente, como está logo na abertura, "aproveitando o Dia Mundial de Luta contra a Aids". Rigorosamente, se o espectador não sabe que o "os jovens gays de 15 a 24 anos são o público prioritário da campanha", nem dá pra perceber. Minha impressão é que a campanha não assume, ela sim, o tal "público prioritário". O preconceito está na própria campanha. Ela é
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