Sem nunca revelar uma única foto, Mapplethorpe alçou a
fotografia à condição de arte, principalmente por seu inquietante
olhar sobre as práticas gays sadomasoquistas, seu desejo por corpos
de homens negros nus e por seus vasos de flores, que a yuppie
década de 1980 transformou em desejo de consumo das sociedades
norte-americana e europeia.
Com o drama,
Mapplethorpe voltará à mídia. Antes de morrer, e já sabendo que
estava infectado pelo HIV, o fotógrafo norte-americano montou e
definiu a missão da Fundação
Mapplethorpe, responsável por proteger e preservar sua obra e
por contribuir financeiramente para as pesquisas científicas contra
a Aids, além de pessoalmente ter contratado a jornalista Patricia Morrisroe para
escrever sua biografia.
Mapplethorpe, uma
biografia chegou às livrarias dos EUA em 1995, foi traduzido
para o português e publicado pela Editora Record no Brasil no ano
seguinte. Talvez a rapidez com a qual o livro foi traduzido seja
responsável por alguns problemas com a edição brasileira,
esgotada.
Com 15 páginas de
fotos, pelo menos duas fotografias não constam da edição
brasileira: a foto do túmulo do fotógrafo e a capa da revista
Artforum. O túmulo de Mapplethorpe nem poderia ter uma foto, pois
ele foi cremado e suas cinzas foram enterradas com o caixão de sua
mãe, Joan, que morreu alguns dias depois do filho. Há também
algumas frases truncadas no livro, sem sentido aparente.
Também, a notícia de
um medicamento para a Aids que o livro nomeia por CD4, que na verdade
é um exame de rotina que conta as células de defesa do organismo,
fundamental para que os médicos saibam como está a progressão do
vírus no corpo das pessoas infectadas pelo HIV. Além disso, alguns
nomes só aparecem na parte final da biografia e Morrisroe não narra
– que eu me lembre – como foi feita a foto do artista plástico
Andy Warhol, ídolo do fotógrafo.
Só garotos, memórias de Patti Smith |
Apesar disso, a
biografia de Mapplethorpe deve ser lida paralelamente a Só
Garotos, da escritora e roqueira Patti Smith, que foi companheira
do fotógrafo e dividiu com ele a cama e o sustentou por longos
períodos nos anos 1960 e 1970. O livro de memórias de Smith,
publicado nos EUA e no Brasil (Companhia das Letras) em 2010, foi uma
promessa da escritora feita ao fotógrafo em seu leito de morte, em
Boston.
Se Morrisroe nomeia a sexualidade de Mapplethorpe por homossexualismo, Smith é politicamente correta e a nomeia por homossexualidade. Se Morrisroe às vezes passa por cima de alguns fatos importantes da vida da dupla, como o longo tempo em que o casal viveu no hotel Chelsea, em Nova York, Smith relata com detalhes as circunstâncias que levaram os jovens pretendentes a artistas a morar no hotel.
Se Morrisroe nomeia a sexualidade de Mapplethorpe por homossexualismo, Smith é politicamente correta e a nomeia por homossexualidade. Se Morrisroe às vezes passa por cima de alguns fatos importantes da vida da dupla, como o longo tempo em que o casal viveu no hotel Chelsea, em Nova York, Smith relata com detalhes as circunstâncias que levaram os jovens pretendentes a artistas a morar no hotel.
Foi no Chelsea que
Mapplethorpe e Smith conheceram a fina flor do rock, do cinema, da
literatura e das artes plásticas norte-americana. Foi lá também que ficaram amigos de
pessoas que lhes favoreceram a entrada a esse mundo regado a glamour,
sexo e drogas. Por fim, se Morrisroe escreveu seu livro baseado nas
16 entrevistas que fez com o fotógrafo e com centenas de
pessoas que passaram pela vida de Mapplethorpe, Smith recorre apenas
a suas memórias.
Se incomodam os erros
na biografia escrita por Morrisroe, supostamente pela rapidez da
tradução para o português, como aventado acima, a mesma rapidez com que
o livro de Smith foi traduzido e publicado no Brasil não tropeçou
nos mesmos obstáculos. Se a biografia escrita por Morrisroe está
esgotada (pode ser encontrada na Estante
Virtual), as memórias de Smith ainda estão nas
livrarias.
Quando Mapplethorpe
voltar à mídia pelo drama que James Franco irá estrelar no cinema,
a Editora Record deve relançar a biografia do fotógrafo, o que será
uma ótima oportunidade para revisar a edição do livro lançado há quase 16 anos no Brasil. Leitores e fãs do polêmico fotógrafo
agradecerão.
Livros:
Mapplethorpe, uma biografia. De Patricia Morrisroe. Editora Record, 1996. Esgotado, disponível na Estante Virtual. R$ 15 a R$ 60.
Só garotos. De Patti Smith. Companhia das Letras, 2010. R$ 39.
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