quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Sexo, drogas, rock and roll e Aids

O ator James Franco (127 Horas, 2010) viverá o ambicioso fotógrafo Robert Mapplethorpe no cinema, projeto da cineasta Ondi Timoner. A informação foi divulgada pelo Hollywood Reporter, site especializado em notícias sobre cinema. O polêmico fotógrafo morreu de Aids em março de 1989, aos 42 anos.

Sem nunca revelar uma única foto, Mapplethorpe alçou a fotografia à condição de arte, principalmente por seu inquietante olhar sobre as práticas gays sadomasoquistas, seu desejo por corpos de homens negros nus e por seus vasos de flores, que a yuppie década de 1980 transformou em desejo de consumo das sociedades norte-americana e europeia.

Com o drama, Mapplethorpe voltará à mídia. Antes de morrer, e já sabendo que estava infectado pelo HIV, o fotógrafo norte-americano montou e definiu a missão da Fundação Mapplethorpe, responsável por proteger e preservar sua obra e por contribuir financeiramente para as pesquisas científicas contra a Aids, além de pessoalmente ter contratado a jornalista Patricia Morrisroe para escrever sua biografia.

Mapplethorpe, uma biografia chegou às livrarias dos EUA em 1995, foi traduzido para o português e publicado pela Editora Record no Brasil no ano seguinte. Talvez a rapidez com a qual o livro foi traduzido seja responsável por alguns problemas com a edição brasileira, esgotada.

Com 15 páginas de fotos, pelo menos duas fotografias não constam da edição brasileira: a foto do túmulo do fotógrafo e a capa da revista Artforum. O túmulo de Mapplethorpe nem poderia ter uma foto, pois ele foi cremado e suas cinzas foram enterradas com o caixão de sua mãe, Joan, que morreu alguns dias depois do filho. Há também algumas frases truncadas no livro, sem sentido aparente.

Também, a notícia de um medicamento para a Aids que o livro nomeia por CD4, que na verdade é um exame de rotina que conta as células de defesa do organismo, fundamental para que os médicos saibam como está a progressão do vírus no corpo das pessoas infectadas pelo HIV. Além disso, alguns nomes só aparecem na parte final da biografia e Morrisroe não narra – que eu me lembre – como foi feita a foto do artista plástico Andy Warhol, ídolo do fotógrafo.

Só garotos, memórias de Patti Smith
Apesar disso, a biografia de Mapplethorpe deve ser lida paralelamente a Só Garotos, da escritora e roqueira Patti Smith, que foi companheira do fotógrafo e dividiu com ele a cama e o sustentou por longos períodos nos anos 1960 e 1970. O livro de memórias de Smith, publicado nos EUA e no Brasil (Companhia das Letras) em 2010, foi uma promessa da escritora feita ao fotógrafo em seu leito de morte, em Boston.

Se Morrisroe nomeia a sexualidade de Mapplethorpe por homossexualismo, Smith é politicamente correta e a nomeia por homossexualidade. Se Morrisroe às vezes passa por cima de alguns fatos importantes da vida da dupla, como o longo tempo em que o casal viveu no hotel Chelsea, em Nova York, Smith relata com detalhes as circunstâncias que levaram os jovens pretendentes a artistas a morar no hotel.

Foi no Chelsea que Mapplethorpe e Smith conheceram a fina flor do rock, do cinema, da literatura e das artes plásticas norte-americana. Foi lá também que ficaram amigos de pessoas que lhes favoreceram a entrada a esse mundo regado a glamour, sexo e drogas. Por fim, se Morrisroe escreveu seu livro baseado nas 16 entrevistas que fez com o fotógrafo e com centenas de pessoas que passaram pela vida de Mapplethorpe, Smith recorre apenas a suas memórias.

Se incomodam os erros na biografia escrita por Morrisroe, supostamente pela rapidez da tradução para o português, como aventado acima, a mesma rapidez com que o livro de Smith foi traduzido e publicado no Brasil não tropeçou nos mesmos obstáculos. Se a biografia escrita por Morrisroe está esgotada (pode ser encontrada na Estante Virtual)as memórias de Smith ainda estão nas livrarias.

Quando Mapplethorpe voltar à mídia pelo drama que James Franco irá estrelar no cinema, a Editora Record deve relançar a biografia do fotógrafo, o que será uma ótima oportunidade para revisar a edição do livro lançado há quase 16 anos no Brasil. Leitores e fãs do polêmico fotógrafo agradecerão.

Livros:
Mapplethorpe, uma biografia. De Patricia Morrisroe. Editora Record, 1996. Esgotado, disponível na Estante Virtual. R$ 15 a R$ 60.
Só garotos. De Patti Smith. Companhia das Letras, 2010. R$ 39.

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