Aproveito o tempo de ida e volta entre o Rio e Brasília para atender ao pedido do Francisco, um leitor que na página mais visitada destas SaudAids pediu que eu contasse como anda minha vida, os resultados dos meus exames, essas coisas. As respostas a dúvidas sobre Aids, que publiquei em 01 de abril de 2008, é a postagem mais visitada do blog, primeiro resultado no “oráculo” Google para a pergunta “quanto tempo vive uma pessoa com HIV” e correlatas. É também a página que mais me dá trabalho aqui. Dificilmente uma semana se passa sem que eu receba um e-mail avisando que há uma nova questão a ser respondida naquela postagem.
Quem entra só pelo endereço do blog pode até pensar que ele foi abandonado, o que não corresponde à realidade. É verdade que ele está meio abandonado. Meio. Como leitores mais assíduos sabem, estou fora de São Paulo, cidade onde nasci e morei até agosto do ano passado, quando vim fazer um mestrado no Rio.
PG
Muita coisa mudou nesse tempo. Mudei bastante a alimentação. Da comidinha e o suquinho religiosos da mamãe pra almoços e jantares sem hora muito certa e comida em pé entre uma aula e outra. Intermináveis viagens noturnas do Rio a São Paulo e vice-versa. Sair de uma aula no Rio às 5 da tarde de uma quinta-feira, pegar um ônibus às 6, chegar a uma da madrugada em Sampa. Depois, voltar no último ônibus da madrugada de terça, chegar pela manhã no Rio com a avenida Brasil congestionada, passar em casa e ir direto pra aula...
Ainda que essas viagens não sejam tão constantes assim, elas cansam... E não representam, de forma alguma, um final de semana prolongado em casa. Até pode ser prolongado. Mas os textos e livros vão junto porque preciso participar das aulas. Agora, as viagens ficarão ainda mais raras, já que estou cumprindo créditos no laboratório de Comunicação e Saúde, aprendendo a coletar dados secundários em pesquisa. Mas o que importa é que estou feliz, apesar da correria.
Saúde
Aliás, como a correria de hoje. Como represento a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS no Grupo Temático ampliado do Programa Conjunto das Nações Unidas (UNAIDS) no Brasil, a cada três meses tenho de fazer uma maratona como a de hoje: acordar às 5h30 para estar no aeroporto uma hora depois e pegar o voo das 7, 7h30 para Brasília, onde tenho duas reuniões e volto no mesmo dia.
Chego 10, 11 da noite em casa, morto de cansaço. Mas é minha função como representante de uma rede nacional. O problema é que ainda tem pessoas que dizem que a gente não faz outra coisa senão “bater cabelo” pelos aeroportos do país afora.
Diante desse panorama, era de se esperar que minha saúde estivesse ruim. Não está. Nem é das melhores. Mas não é das piores. Da última vez que fiz meus exames de rotina, o CD4 estava na faixa dos 600. A carga viral que tinha subido. De indetectável (menor que 50 cópias), passou para 57 cópias. Apesar da falta de regras alimentares, o colesterol estava baixo. Só o triglicérides que havia subido um pouco. Mas minha médica disse que só iria considerar se na próxima bateria de exames as taxas se mantivessem altas. Ah, isso sem contar a vida sedentária, sem exercícios físicos, um agravante não recomendável. Os próximos resultados dirão.
Love, love, love
Já fiz essa bateria de exames, mas só volto ao médico em 25 de junho. Aliás é outra coisa que mantenho em Sampa: meu tratamento. O Rio é caótico em matéria de assistência às pessoas que vivem com HIV/AIDS. Hoje propus à diretora do Departamento de Aids do Ministério da Saúde que promovesse uma recentralização da assistência em Aids no estado do Rio de Janeiro.
Pra você ter uma ideia, há algumas semanas o jornal O Dia publicou que nos serviços de Aids de Copacabana e do centro da cidade, na capital carioca, cinco infectologistas deveriam atender 5,5 mil pessoas cadastradas, o que dá cerca de 1,1 mil pessoas em seguimento clínico por um especialista. Isso significa que num mês de 20 dias úteis, um médico tem de atender a 27,5 pessoas que vivem com HIV/AIDS por dia, levando em conta uma consulta a cada dois meses, como faço. A recentralização estadual (ou intervenção federal) foram descartadas. Mas alguma coisa tem de ser feita para além das conversas do governo federal com Estado e município.
Pra tudo isso, é preciso paixão. Muita paixão. E o coração fica sempre muito sozinho. Também, neste quesito, não dá mais pra esperar rejeição. Se alguém sabe a melhor hora de contar a um(a) parceiro(a) que vive com HIV/AIDS, aproveita e me conta. A gente nunca sabe. Pra cada pessoa um tempo. Aí, diante disso, resolvi dedicar aos amigos, à família e aos estudos o amor, o afeto e o carinho.
É claro que não é igual (nem parecido) com tomar um chocolate quente acompanhado, debaixo do cobertor, numa noite fria de inverno. Ou molhar o lençol de suor durante uma sessão de sexo e prazer com a pessoa amada. Mas é assim mesmo. Um dia a gente encontra a outra metade. Ou não. Afinal, a vida é isso aí.
2 comentários:
Oi Paulo...
Muito obrigado pelo seu post. Fico triste, porém pelo final do texto, onde foi possível perceber que algo está a faltar em sua vida. Corra atrás disso, se você acha que irá completar sua felicidade. Concordo que uma alma gêmea não se encontra da noite pro dia, mas quem sabe, acreditar que alguém possa ser sua alma gêmea, possa lhe trazer a alegria que te falta. Mudando de assunto, estava agora a pouco a assistir o Globo Reporter, que dispertou minha curiosidade sobre o ZimDuck, segue um link caso tenha interesse: http://www.olharvital.ufrj.br/2006/index.php?id_edicao=060&codigo=2
Espera que seja um sucesso não só para HIV como para outras doenças que só vêm fazendo mais vítimas a cada dia.
Abraços.
Olá Francisco,
O ZimDuck vem sendo estudado há anos e ainda não há nada conclusivo, segundo os resultados da pesquisa que fiz na internet.
Quanto à outra metade da laranja, acho que você tem razão. Entretanto, não vou sair por aí atrás da minha cara-metade. SE ela chegar (e conseguir me aturar, hehehe) será ótimo. Se não, continuarei depositando meu afeto e meu carinho no meu trabalho, nos meus estudos e compartilhando com meus amigos.
Abração!
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