Há alguns meses, um consultor do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) ligou em casa para falar sobre um estudo que estava sendo feito para levar uma proposta inédita ao Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (Conade). A proposta seria incluir pessoas vivendo com HIV e aids (PVHA) como deficientes. O objetivo era o de facilitar a inclusão de milhares de pessoas no mercado de trabalho.
Expliquei a ele que nós, PVHA, temos lutado desde o advento da aids, que a mídia rotulou de “peste gay”, doença de homossexuais, prostitutas e usuários de drogas injetáveis, para vencer o estigma e o preconceito que essa caracterização nos impingiu. Disse que nada garantiria que empresas contratassem PVHA simplesmente por serem consideradas deficientes; afirmei que era melhor o MTE estudar um jeito de conceder incentivos fiscais a empresas que se dispusessem a contratar PVHA; que o projeto ia contra nossas reivindicações etc. Ele ficou de enviar o estudo por e-mail. Ainda espero.
Semanalmente, a mídia tem dado que os níveis de trabalho e emprego têm subido, que as empresas têm contratado mais. Mas, ao ler as notícias, percebe-se que as ofertas são para candidatos e candidatas sem muita especialização. A maioria dos novos empregos está na construção civil.
Muitas PVHA vivem de aposentadoria. Outras, afastadas do trabalho e vivendo de auxílio doença. Outras, ainda, vivem na clandestinidade, ou seja, continuam no trabalho sem se abrir para colegas e superiores.
Em abril completo 14 anos no mercado informal. É um bico aqui, outro ali. Sem garantias trabalhistas, sem nada. Há algumas semanas enviei um currículo para uma vaga em uma organização do chamado terceiro setor. Até agora não recebi resposta, nem mesmo um “muito obrigado por participar do processo de seleção”. E a vaga continua em aberto. O jeito vai ser prestar um concurso público.
Não seria legal oferecer incentivos fiscais para empregadores que admitissem PVHA? Tudo bem que menos de 3% da população brasileira vive com HIV e aids. Mas, por conta do estigma, do preconceito e da discriminação é que não temos trabalho, emprego e renda. E, também por conta desses mesmos estigma, preconceito e discriminação que pessoas jovens têm se infectado mais. Afinal, nada disso é com elas.
Seria interessante que, para além da questão trabalhista, a sociedade brasileira pudesse conviver melhor com as PVHA. Talvez as pessoas pudessem escolher conscientemente transar com camisinha a ter de tomar medicamento pro resto da vida. Alô ministro Carlos Roberto Lupi, dá pra pensar um pouco nisso?
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
Alô Lupi, a gente quer trabalhar!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Impressionante, vocês soropositivos se acham os únicos sem emprego, sem trabalho formal.
Amigo, sinto dizer-lhe, mas fiquei mais de 10 anos sem carteira assinada, não tenho HIV, mas tenho irmão com vírus.
Ele é tecnico de informática e ganha mais do que eu, hahahahahaha.
Acho que o buraco é um pouco mais embaixo.
Prezado Anônimo,
Qual seria o problema, então?
Seria bastante interessante vc colocar o seu ponto de vista e não apenas dizer que "vocês soropositivos se acham os únicos em emprego, sem trabalho formal".
Postar um comentário