Ativistas brasileiros: the dream is over! |
“Brasil, faça a lição de casa!” Foi com esta frase que
ativistas brasileiros deixaram a manifestação na frente do estande oficial do
Brasil, em AIDS 2012 e se dirigiram à sala de imprensa. Foi a primeira
manifestação do movimento social que invadiu o “media center”. Atrás de nós
vieram os redutores de danos e uma ONG indiana, que protestava contra o acordo
de medicamentos que a Índia está fechando com a União Europeia e que vai
dificultar a produção de medicamentos genéricos no país.
Mas, voltando ao Brasil, todas as pessoas do movimento
social brasileiro presentes à conferência internacional de AIDS, em Washington,
D.C., estavam na manifestação. Eu, que fiquei responsável apenas por fazer
algumas fotos não resisti e, como meus companheiros de ativismo, amarramos
nossas bocas com uma fita vermelha com a palavra “danger” (perigo) e interrompemos
a apresentação de samba empunhando cartazes com frases que denunciaram a
situação da epidemia de AIDS no país, cerca de 10h30 em DC (11h30 em
Brasília).
A fita foi a estratégia que usamos para não nos
confundirmos com o inglês, além de denunciar a censura que temos sofrido e os
critérios estritamente políticos de aprovação de alguns projetos da sociedade
civil. E Jorge Beloqui e Alessandra Nilo tomaram o microfone e deram nosso
recado, enquanto um de nós usava a mesma fita para isolar o estande brasileiro.
O recado: o governo tem sufocado o movimento social, dificultando o controle
social. O melhor programa de AIDS do mundo morreu e está matando a sociedade
civil brasileira. O governo da presidente Dilma tem sistematicamente se dobrado
aos evangélicos, censurando a campanha de carnaval e o kit anti-homofobia. ONG
estão fechando as portas etc., etc., etc.
Hoje, o governo dos Estados Unidos fará uma doação de US$ 2
milhões a um novo fundo, criado para ações de combate à AIDS. Há dois dias,
integrantes do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da
Saúde têm questionado os ativistas presentes em Washington perguntando se são
mais bem-vindos os US$ 2 milhões de Hillary Clinton ou os R$ 7 milhões lançados
em editais. Perguntaram a mim e a dois outros ativistas. Pensam que não sabemos
fazer contas. Dos R$ 7 milhões (que representam cerca de US$ 3,5 milhões),
parte é para o edital de fóruns e redes recém-lançado, cujo montante deve ser
utilizado em dois anos. Qual é a diferença?
Além disso, os EUA têm uma cultura de doações de pessoas
físicas e jurídicas. Na Marcha sobre Washington, há dois dias, quando chegamos
aos jardins da Casa Branca, logo chegaram pacotes e mais pacotes de garrafas de
água. Também foi passada uma bandeira de Washington, onde as pessoas punham
dinheiro. Faça-se isso no Brasil e veja o quanto se recolhe.
A algumas pessoas, o Departamento de AIDS tem dito que o
trabalho das ONG deveria ser voluntário. Mais? Quem sobrevive com R$ 1.500 de
coordenação de um projeto para ser executado por dois anos com uma carga de 40
horas semanais? Sem recolhimento de INSS, FGTS, IRPF: ou seria melhor chamar
isso de semiescravidão? Brasil, mostra sua cara, diga-nos quem paga pra
assassinar paulatinamente o melhor programa de AIDS do mundo. Brasil, mostra
sua cara, faça a lição de casa para voltar a ser o melhor programa de AIDS do
mundo, com a participação e cooperação da sociedade civil.
Participo
de AIDS 2012 por indicação da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS
(RNP+ Brasil) para compor a delegação oficial brasileira, com recursos do
Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.
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